As ações de empresas e bancos brasileiros listados nos Estados Unidos registraram queda nas negociações pré-abertura desta quinta-feira (10), refletindo o impacto da decisão do presidente norte-americano, Donald Trump, de impor tarifas de 50% sobre produtos importados do Brasil. O movimento já prenuncia uma sessão turbulenta para os ativos brasileiros no exterior.
Indicadores de volatilidade cambial atingiram os níveis mais altos desde o episódio conhecido como “Dia da Libertação”, em abril, após o contrato de dólar futuro com vencimento mais próximo saltar mais de 2% frente ao real na quarta-feira (9). Segundo o Deutsche Bank, a forte reação evidencia uma escalada das tensões entre os dois países.
Entre os papéis brasileiros negociados nos EUA, os bancos Itaú Unibanco e Santander caíam 2,7% e 2,4%, respectivamente, enquanto as ações da Petrobras recuavam quase 1% no pré-market. As American Depositary Receipts (ADRs) da Embraer, por sua vez, despencaram 9% na noite anterior, conforme noticiado pela Bloomberg.
O analista Graham Stock, da RBC BlueBay Asset Management, afirmou que o raciocínio por trás da alíquota de 50% anunciada por Trump está mais relacionado a questões políticas do que econômicas. Ele destacou que o republicano tem feito críticas abertas ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro — acusado de tentar articular um golpe de Estado — e às decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que, segundo Trump, afetariam empresas de mídia social dos EUA.
Apesar do impacto inicial no mercado, Stock avalia que as implicações econômicas diretas são limitadas, pois pouco mais de 10% das exportações brasileiras têm como destino os EUA. No entanto, ele alertou para riscos políticos: “O perigo é que o presidente Lula use essa confrontação com os EUA como símbolo de resistência externa durante o período que antecede as eleições de 2026, o que tornaria menos provável uma saída diplomática para a crise.”
A decisão oficializada por Trump na quarta-feira ocorreu dois dias após ele ameaçar aplicar uma tarifa adicional de 10% sobre produtos dos países do Brics, bloco que classificou como “antiamericano”.
Além das repercussões políticas e financeiras, as tarifas podem afetar diretamente o mercado consumidor norte-americano. Os EUA importam cerca de um terço do café que consomem do Brasil, além de mais da metade do suco de laranja disponível no país. Com a nova taxação, os preços desses produtos tendem a subir no mercado americano.