A inesperada decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 50% sobre produtos importados do Brasil provocou uma reviravolta no sentimento dos mercados financeiros nacionais. O anúncio foi feito após o fechamento do pregão regular desta quarta-feira (9), mas os reflexos imediatos foram sentidos nos mercados futuros: o Ibovespa futuro desabou 2,44%, aos 137.800 pontos, enquanto o dólar futuro disparou 2,30%, alcançando R$ 5,6115. Já os juros futuros registraram alta de até 21,5 pontos-base.
Até então, o ambiente era de maior otimismo entre investidores, com posições favoráveis ao real, à bolsa e à queda dos juros. A surpresa negativa gerada pelas tarifas desencadeou uma correção abrupta, com risco de reversão nos fluxos de capital mais positivos para o país. A liquidez reduzida, por conta do feriado em São Paulo e das férias de verão no Hemisfério Norte, ampliou o impacto. O Ibovespa encerrou o pregão regular em queda de 1,31%, aos 137.481 pontos, próximo da mínima do dia.
As taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) também dispararam. O DI para janeiro de 2026 subiu de 14,925% para 14,93%; o de 2027, de 14,175% para 14,27%; o de 2029 saltou de 13,305% para 13,485%; e o de 2031 avançou de 13,425% para 13,64%. O dólar à vista valorizou 1,06%, encerrando a R$ 5,5032.
Para Eduardo Cohn, sócio da Heritage Capital Partners, o real tende a se enfraquecer com as tarifas, uma vez que o Brasil exportará menos para os EUA, o que deve pressionar a balança comercial e, indiretamente, gerar impacto inflacionário via câmbio mais depreciado. “O terceiro efeito seria a desaceleração do crescimento devido à queda nas exportações”, apontou. Cohn avalia que Trump tem mostrado insatisfação crescente com a política brasileira e que, ao contrário da China, o Brasil não possui peso estratégico suficiente para negociar uma reversão das medidas.
Igor Barenboim, economista-chefe da Reach Capital, foi ainda mais incisivo. Segundo ele, a tarifa de 50% sinaliza que o Brasil está sendo tratado como “país inimigo”, superando até os níveis aplicados a nações como China e outras asiáticas. “O evento teve o condão de nos tornar o primeiro do ranking. É muito preocupante”, disse. Ele destacou o potencial impacto em empresas exportadoras como WEG e Embraer — esta última teve queda de 6,45% em seus ADRs negociados em Nova York após o anúncio.
Malek Zein, da Eleven Financial, destacou que os setores mais atingidos devem ser siderurgia, indústria aeronáutica e automotiva. No entanto, lembrou que algumas empresas podem mitigar perdas por possuírem unidades produtivas fora do Brasil. “É possível contornar, em alguns casos, exportando por outras fábricas e redirecionando a produção brasileira para outros mercados”, explicou.
O mercado agora monitora a reação política do governo Lula. Para o estrategista Alexandre Póvoa, da Meta Asset Management, uma retaliação brasileira com tarifas semelhantes seria um “suicídio econômico”. Ele vê o anúncio como parte da estratégia de negociação de Trump, mas teme que a motivação política dificulte uma reversão. “A raiz alegada é política, não econômica”, reforça.
Uma fonte de uma gestora local também vê riscos crescentes se o Brasil adotar um tom confrontacional. “Pode piorar a situação se houver um embate direto”, alertou. Essa fonte, que já mantinha uma visão pessimista para o câmbio, acredita que o momento pode acelerar uma nova rodada de depreciação do real e reprecificação negativa de outros ativos.
Para Barenboim, a reação dos mercados nesta terça foi marcada por ordens de “stop loss” — mecanismo de proteção de perdas — que acentuaram os movimentos de baixa. “O impacto direto na balança comercial pode ser médio, mas o dano à confiança é significativo”, concluiu.
Além de dólar mais caro e juros mais altos, o cenário também pressiona ações e pode abalar o posicionamento de investidores que apostavam em um ambiente mais favorável ao Brasil — especialmente com base em uma possível vitória da oposição em 2026, como observa Eduardo Cohn. “Muitos estavam posicionados no ‘trade Tarcísio’, mas o cenário mudou rápido”, pontuou.