O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) voltou a apontar o retorno do horário de verão como uma medida “imprescindível” caso as condições de suprimento de energia no país não melhorem nos próximos meses. A recomendação consta no Plano da Operação Energética (PEN) 2025–2029, lançado nesta terça-feira (8), que alerta para uma crescente degradação da capacidade do sistema elétrico brasileiro de atender à demanda no horário de pico, especialmente no início da noite.
Segundo o plano, o risco de déficit de potência — capacidade de fornecer energia instantânea quando a demanda atinge o ápice — tem aumentado nos últimos anos, em razão da forte expansão da geração solar, que perde força justamente quando a carga sobe no fim da tarde. A análise indica que, durante o período seco de 2025, será necessário o acionamento de termelétricas além daquelas que operam continuamente, o que reforça a urgência por soluções adicionais.
Uma dessas soluções seria o leilão de contratação de capacidade de reserva, previsto para este ano, mas cancelado após contestações judiciais de grupos que se sentiram excluídos do processo. Sem o leilão, o operador alerta que, além do uso intensivo de térmicas, o sistema poderá depender da reserva operativa — um volume mínimo de energia armazenada nas hidrelétricas destinado ao controle da frequência do sistema em situações emergenciais.
O ONS também propôs outras medidas ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), como a antecipação da entrada em operação de termelétricas contratadas em 2021, a preservação de recursos hídricos para o período seco e incentivos à chamada “resposta da demanda”, em que consumidores, especialmente indústrias, são remunerados para reduzir o consumo nos horários de maior demanda.
A adoção do horário de verão segue sob avaliação e, conforme o ONS, poderá ser oficialmente recomendada ao CMSE “a depender das projeções de atendimento para os próximos meses”.
A preocupação se estende ao médio prazo. Com o aumento da oferta de fontes intermitentes, como a solar, e o crescimento do consumo no fim do dia, o PEN destaca a importância de leilões anuais de contratação de capacidade, privilegiando fontes flexíveis, ou seja, que possam ser despachadas rapidamente conforme a necessidade do sistema.
O plano critica a adoção de térmicas inflexíveis — como as previstas na lei de privatização da Eletrobras — por representarem risco de agravamento de sobras de energia durante horários de alta geração solar.
“Com o crescimento das fontes intermitentes, novos desafios surgiram para a operação”, afirmou Marcio Rea, diretor-geral do ONS. Segundo ele, o sistema precisa de fontes controláveis e flexíveis, capazes de responder rapidamente à variação da carga. “Precisamos cada vez mais de flexibilidade para manter o equilíbrio entre oferta e demanda, especialmente durante as rampas de carga”, completou.