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Setor de pescados ameaça suspender exportações aos EUA após anúncio de tarifa de 50%

Em reunião, vice-presidente Geraldo Alckmin sugeriu que indústria mobilize compradores americanos e busque mercados alternativos

O setor brasileiro de pescados anunciou que poderá suspender as exportações aos Estados Unidos dentro de uma semana, em reação à tarifa de 50% anunciada pelo ex-presidente Donald Trump sobre produtos brasileiros. Com cerca de 70% da produção voltada ao mercado americano, representantes da indústria alertam que a medida pode inviabilizar toda a cadeia produtiva até que novos mercados sejam abertos.

Em reunião com ministros e o vice-presidente Geraldo Alckmin, representantes da indústria foram orientados a mobilizar seus parceiros comerciais nos Estados Unidos, que também seriam afetados pela sobretaxa. Segundo Eduardo Lobo, presidente da Abipesca (Associação Brasileira da Indústria da Pesca), o setor pressiona o governo por um adiamento da tarifa por pelo menos 90 dias. “Não se abre um novo mercado de um dia para o outro. Há hábitos alimentares, tipos de corte, produtos e embalagens que precisam ser adaptados”, afirma.

Apesar da apreensão, o governo federal afirma que ainda não recebeu notificação oficial sobre a medida, mencionada apenas por Trump em uma publicação recente em rede social. A Abipesca também reivindica a retomada das negociações para reabrir o mercado europeu ao pescado brasileiro, fechado desde 2017. Contudo, segundo a entidade, Alckmin evitou se comprometer com uma nova rodada de negociações com a União Europeia.

Com o impasse, mais de mil toneladas de pescado já se acumulam em frigoríficos, à espera de uma definição, totalizando cerca de US$ 50 milhões em mercadorias paradas. A estimativa do setor é que até 3.500 embarcações possam ser paralisadas, uma vez que o mercado interno não tem capacidade de absorver o volume e a diversidade de produtos destinados à exportação.

Rafael Barata, diretor de comércio exterior da Frescatto, afirma que ainda não há uma solução para o produto já processado e pronto para embarque. “A medida nos pegou de surpresa. Se mandarmos por navio, a carga será taxada ao chegar. Estudamos a possibilidade de exportar por via aérea”, disse. A alternativa, porém, seria apenas paliativa, com objetivo de liberar espaço nos estoques e gerar algum fluxo de caixa, já que o frete aéreo inviabiliza qualquer margem de lucro.

A tilápia, principal produto da piscicultura de exportação, será especialmente impactada. De acordo com Francisco Medeiros, presidente da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR), 90% das exportações de tilápia têm como destino os EUA. O Brasil é hoje o segundo maior fornecedor da variedade fresca para o mercado americano, atrás apenas da Colômbia. Com o anúncio da sobretaxa, o embarque de filés congelados já foi suspenso. “Com o tarifaço, o Brasil está fora do jogo”, resume.

Caso a tarifa se confirme, o setor deverá redirecionar parte da produção para o mercado doméstico, o que pode pressionar os preços da tilápia. Hoje, apenas 3% a 5% da produção nacional é exportada, com o restante absorvido internamente.

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