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IPCA recua 0,11% em agosto e surpreende o mercado, avaliam analistas

Analistas projetam BC mantendo Selic alta até 2026 para garantir convergência da inflação

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou deflação de -0,11% em agosto, resultado que frustrou o mercado ao vir acima da expectativa de -0,15%. Apesar da queda nos preços, a leitura do indicador trouxe sinais preocupantes em sua abertura, reforçando a percepção de que a política monetária deve continuar restritiva por mais tempo.

Os principais vetores de queda foram habitação, alimentação e transportes, com impacto conjunto de -0,30 ponto percentual. O bônus de Itaipu reduziu as tarifas de energia elétrica, enquanto gasolina e alimentos no domicílio também contribuíram para o resultado.

Ainda assim, o alívio não foi suficiente para melhorar o quadro inflacionário. A difusão avançou de 50% para 57%, mostrando que o aumento nos preços foi mais espalhado entre os itens pesquisados. Além disso, os núcleos de inflação e os serviços seguiram em aceleração no acumulado de 12 meses.

Para Sara Paixão, analista de Macroeconomia da InvestSmart XP, o dado reforça que o Banco Central deve manter uma postura cautelosa. “Os núcleos e a inflação de serviços são acompanhados de perto pelo Copom, pois refletem os preços mais sensíveis ao ciclo de juros. O resultado de agosto mostra que a pressão inflacionária segue presente, mesmo com a deflação pontual”, avaliou. A analista destaca que fatores como o mercado de trabalho aquecido, o pagamento de precatórios e as transferências fiscais ampliam a pressão sobre o consumo.

Na mesma linha, Camilo Cavalcanti, gestor de Portfólio da Oby Capital, ressalta que o dado veio “pouco acima das expectativas, em -0,11%, ante consenso de -0,17%”. Segundo ele, a surpresa negativa foi puxada por uma queda menor do que a esperada na alimentação no domicílio (-0,83%) e por alta em bens industriais (+0,18%). “Nos núcleos, a média ficou em 0,31%, interrompendo a melhora dos últimos meses. O maior destaque negativo foram os itens intensivos em trabalho, com alta de 0,65%”, explicou.

Cavalcanti avalia que o resultado reforça a necessidade de prudência na política monetária. “Embora combustíveis e energia tragam algum alívio, a persistência da inflação de serviços e a difusão elevada mantêm o cenário desafiador. O Banco Central tende a adotar um discurso conservador, ainda sem sinalizar cortes, até que haja sinais mais claros de convergência para a meta em 2026/2027”, concluiu.

Diante desse cenário, a avaliação predominante no mercado é de que o Copom deve manter a Selic inalterada na próxima reunião e preservar o tom duro em suas comunicações. A expectativa é de que os cortes na taxa de juros só comecem no primeiro trimestre de 2026, quando o Banco Central terá maior confiança de que as expectativas de inflação estão devidamente ancoradas.

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