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Tesouro IPCA+ paga acima de 7% ao ano e abre rara janela para investidores

Títulos do Tesouro IPCA+ oferecem juro real acima de 7% ao ano, patamar raro na última década

Os títulos públicos indexados à inflação, conhecidos como Tesouro IPCA+, estão oferecendo uma rentabilidade considerada rara pelos especialistas. Segundo levantamento da Quantum Finance, as taxas atuais variam entre 7% e 7,77% ao ano acima da inflação, patamar pouco visto na última década. Apenas três papéis — com vencimentos em 2040, 2050 e 2060 — tiveram mais da metade dos dias de negociação acima desse nível. Nesta terça-feira (23), esses mesmos títulos pagavam, respectivamente, IPCA + 7,12%, IPCA + 7% e IPCA + 7,20% ao ano.

Apesar da atratividade, esse tipo de investimento exige cautela. Quem carrega o papel até o vencimento garante a rentabilidade contratada, mas em caso de venda antecipada pode haver perda de capital, já que o preço oscila conforme o mercado de juros. A rentabilidade diária dos títulos varia de acordo com o humor dos investidores e com o cenário fiscal do país.

Carlos Lopes, economista do banco BV, lembra que juros reais acima de 7% costumam surgir em momentos de forte estresse. Hoje, embora o ambiente externo esteja mais estável, a incerteza fiscal brasileira segue como pano de fundo. Segundo ele, o governo tem cumprido o arcabouço fiscal, mas faltam ajustes estruturais para estabilizar a dívida no longo prazo. O Prisma Fiscal projeta que a dívida bruta chegará a 83,8% do PIB em 2026, contra 77,5% em julho deste ano, o que pressiona os investidores a exigir prêmios maiores para financiar o país.

Os juros futuros também refletem esse pessimismo. As projeções apontam para uma Selic acima de 13% nos próximos anos, mesmo que o Banco Central, hoje com a taxa em 15%, inicie cortes graduais. Essa dinâmica explica por que, mesmo em períodos de calmaria, o Tesouro IPCA+ mantém remunerações elevadas. Em 2023, quando o arcabouço fiscal foi aprovado, o IPCA+ 2029 chegou a oferecer apenas 4,87% ao ano acima da inflação. Hoje, o mesmo papel paga 7,76%, mas só registrou taxas acima de 7% em 29% do tempo de negociação.

Além do quadro fiscal, fatores externos influenciam as taxas, como os juros altos no exterior e a concorrência de investimentos isentos de Imposto de Renda, como debêntures incentivadas, LCIs e LCAs. A proximidade das eleições de 2026 também pesa, já que a incerteza política tende a aumentar a volatilidade e elevar a exigência de retorno.

Gabriel Santos, especialista da Bloxs, ressalta que essa é uma oportunidade rara para investidores que buscam ganhos reais expressivos em ativos seguros. “Os títulos do Tesouro IPCA+ não apenas preservam o poder de compra contra a inflação, mas também oferecem um retorno robusto para quem carrega até o vencimento”, afirma.

Ainda assim, o Tesouro IPCA+ não é a opção mais rentável disponível. Com a Selic em 15%, outros papéis de renda fixa também se tornam atrativos. Um exemplo é o Tesouro Selic 2031, que hoje paga a taxa básica acrescida de 0,1035%, resultando em retorno líquido anual de 13,36% após impostos, o que representa um ganho real de 8,53% considerando a inflação prevista para este ano. Produtos como LCIs, LCAs e debêntures incentivadas podem oferecer remuneração maior, mas com mais risco e menos liquidez.

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