O Banco Central (BC) ajustou para baixo suas expectativas para a economia brasileira nos próximos anos. No Relatório de Política Monetária (RPM) do terceiro trimestre, divulgado nesta quinta-feira (25), a instituição reduziu a projeção do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025 para 2%, de 2,1%, e apresentou pela primeira vez sua estimativa para 2026, de 1,5%.
Apesar do cenário de desaceleração, o BC enfatizou a resiliência do mercado de trabalho e da renda, fatores que devem seguir sustentando a atividade. A autoridade monetária também ampliou a previsão de déficit em conta corrente para 2025, de US$ 58 bilhões para US$ 70 bilhões, antes de um recuo projetado para US$ 58 bilhões em 2026.
Segundo o BC, a revisão para baixo em 2025 reflete efeitos do aumento de tarifas dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, ainda que incertos. Informações preliminares da pesquisa Firmus, que será divulgada no dia 29, indicam que a maioria das empresas ainda não percebe impacto direto do tarifaço, embora relatassem aumento da incerteza e, em alguns casos, perda de demanda externa ou mais concorrência com importados.
Por outro lado, setores como agropecuária e indústria extrativa compensaram parcialmente a revisão negativa. A previsão para a agropecuária em 2025 subiu para 9% (de 8%), enquanto a da indústria caiu para 1% (de 1,9%) e serviços ficaram estáveis em 1,8%. Do lado da demanda, houve queda nas projeções de consumo das famílias (1,8%, de 2,1%) e do governo (0,5%, de 1,2%), mas avanço nos investimentos (3,3%, de 2,8%), puxados pela importação de plataformas de petróleo.
A projeção de PIB para 2026 considera a manutenção da política monetária restritiva, menor espaço de ociosidade da produção, desaceleração global e a ausência do impulso agrícola recorde previsto para 2025. O BC alerta que a safra de grãos do próximo ano pode não repetir as condições climáticas favoráveis.
Na oferta, agropecuária, indústria e serviços devem crescer 1%, 1,4% e 1,5%, respectivamente. Pelo lado da demanda, consumo das famílias deve avançar 1,4%, o do governo, 1%, e os investimentos, apenas 0,3%. O BC destaca que o consumo tende a ser contido pelo alto endividamento das famílias, embora a resiliência da renda disponível atenue parte da perda de dinamismo.
O relatório trouxe ainda quatro estudos especiais sobre emprego, reforçando a visão de que o mercado de trabalho segue aquecido. O BC apontou rotatividade elevada, tempo de recolocação inferior a dez meses — patamar comparável a 2013 e 2014 — e prêmio salarial médio entre 4% e 5% em 2024 e 2025, acima do observado há uma década.
Um dos levantamentos destacou o impacto do crescimento dos trabalhadores por aplicativos, que aumentaram a taxa de ocupação em 0,8 ponto percentual e reduziram a desocupação em 0,6 ponto. Outro estudo mostrou que, sem a mudança na estrutura etária da população em idade ativa desde 2014, a taxa de participação seria hoje cerca de 2,5 p.p. menor.
Por fim, a autoridade monetária avaliou a contribuição do setor de serviços para a inflação salarial e apontou diferenças no comportamento de salários entre trabalhadores mais jovens e mais velhos.
Questionado sobre se a ênfase nos estudos sobre emprego revelaria dúvidas sobre a eficácia da política monetária, o diretor de política econômica do BC, Diogo Guillen, negou. “Nunca tive dúvidas e sigo sem dúvidas sobre a política monetária tendo efeito”, afirmou.