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Futuro do Banco Master depende de decisão do FGC sobre linha de R$ 4 bilhões

Daniel Vorcaro busca liquidez com venda de empresas e pressiona por acordo com o FGC para impedir que a crise

O controlador do Banco Master, Daniel Vorcaro, intensificou os esforços para garantir liquidez e evitar que o Banco Central (BC) adote uma medida drástica de intervenção na instituição. Após vender a seguradora Kovr na semana passada, ele segue em negociações para rolar a linha de crédito emergencial de quase R$ 4 bilhões obtida junto ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC). A primeira rolagem, de 30 dias, vence nesta semana, mas ainda não está claro se haverá prorrogação, já que a decisão não implica automaticamente em uma intervenção regulatória.

De acordo com fontes próximas às discussões, o FGC não estaria inclinado a renovar o empréstimo nas mesmas condições, mas também não descarta totalmente essa possibilidade. Caso aceite, deve impor exigências mais duras, como a apresentação de novas garantias. A não renovação da linha tornaria o cenário do Master mais delicado, embora não seja possível estimar com precisão quanto caixa o banco possui nem a dimensão dos vencimentos de seus passivos, já que a instituição ainda não divulgou o balanço do primeiro semestre.

Para alguns analistas, a rolagem poderia ser vantajosa ao próprio FGC, que evitaria a necessidade de honrar dezenas de bilhões de reais em CDBs de forma imediata. “Se eu fosse o FGC, manteria na rédea curta, com renovações periódicas, para acompanhar a redução do risco”, afirmou uma fonte do mercado. A linha de assistência de liquidez não possui prazo fixo e pode ser estendida indefinidamente, permitindo um monitoramento contínuo da situação.

Enquanto isso, Vorcaro tem multiplicado reuniões com representantes do BC e executivos da Faria Lima, em busca de alternativas. Entre as negociações em andamento está a possível venda do banco digital Will Bank, que pode render até R$ 200 milhões, além da avaliação de outras licenças bancárias que pertencem ao conglomerado.

No BC, o tema ganhou complexidade adicional com a ausência de parte da diretoria em viagens internacionais nesta semana, incluindo Renato Gomes, responsável pela área de Organização do Sistema Financeiro e Resolução. Gomes foi um dos principais opositores à operação frustrada entre Master e BRB, bloqueada pelo regulador no início do mês. O presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, tem reunião marcada nesta terça-feira com representantes do FGC para discutir o caso.

O risco de uma intervenção levanta memórias de episódios marcantes no setor bancário. Desde a criação do BC, em 1964, 146 instituições passaram por intervenção ou liquidação, a maioria nas décadas de 1970 a 1990. O último caso foi o Banco Neon, em 2018. Se o Master quebrar, o impacto sobre o FGC pode ser histórico. Dados do IFData, do BC, mostram que o banco possuía R$ 62,2 bilhões em depósitos elegíveis à cobertura do fundo em março. Como a garantia é limitada a R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, o valor efetivo seria menor, mas as estimativas apontam para cerca de R$ 50 bilhões em compromissos.

O montante supera, em muito, os maiores desembolsos já feitos pelo FGC, como o resgate do Bamerindus, que custou R$ 3,7 bilhões em 1997 — o equivalente a R$ 19,6 bilhões em valores atualizados. Em comparação, um socorro ao Master representaria o maior desembolso da história do fundo, que completou 30 anos de atuação. Desde sua criação, ele já garantiu depósitos de 40 instituições em crise.

Procurados, Banco Master, FGC e Banco Central não comentaram o caso.

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