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PF investiga Banco Master e tentativa de compra pelo BRB após veto do BC

Investigação se baseou em documentos fornecidos pelo BC, que vetou o negócio, ao Ministério Público Federal

A Polícia Federal instaurou um inquérito para investigar suspeitas de crimes relacionados à gestão do Banco Master e à tentativa de venda de parte da instituição ao Banco de Brasília (BRB), operação rejeitada pelo Banco Central (BC) no início de setembro. A apuração, que está em fase inicial, foi aberta a partir de documentos enviados pelo BC ao Ministério Público Federal (MPF), que, por sua vez, encaminhou as informações à PF. A revelação foi feita pela Folha de S.Paulo e confirmada pelo Estadão.

Em nota, o Banco Master afirmou ter sido “surpreendido pelo tema” e classificou as suspeitas como destituídas de respaldo fático. A instituição acrescentou que a divulgação de informações “imprecisas ou inverídicas” pode configurar crime contra o sistema financeiro nacional, já que teria o objetivo de abalar sua imagem, reputação e credibilidade, induzindo investidores ao erro. O BRB, por sua vez, declarou não ter conhecimento do inquérito, reforçou seu compromisso com a transparência e disse colaborar amplamente com órgãos de fiscalização sempre que solicitado. O Banco Central não se manifestou oficialmente.

O MPF também anexou à investigação um relatório da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que identificou aportes de R$ 2,1 bilhões do Master em empresas sem capacidade econômica comprovada. O documento aponta indícios de possíveis crimes nas operações. Essas informações se somam às preocupações que já haviam levado o BC a vetar a compra do Master pelo BRB.

Um dos pontos críticos, segundo integrantes envolvidos nas negociações, foi o risco de o BRB herdar problemas ligados aos chamados ativos “podres” do Master, mesmo que eles não estivessem formalmente incluídos no contrato de aquisição. A proposta de venda havia sido inspirada no antigo Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), dos anos 1990, no qual instituições saudáveis incorporavam ativos bons de bancos em crise, deixando de fora aqueles com baixa qualidade.

O problema, contudo, é que o banqueiro Daniel Vorcaro, controlador do Master, teria participação acionária no novo banco corporativo que seria criado dentro da estrutura do BRB após a transação. Essa fatia poderia ser interpretada como uma garantia para cobrir eventuais prejuízos dos ativos de baixa qualidade, o que aumentaria o risco de o banco público ser contaminado pelas fragilidades do Master.

O BRB chegou a incluir uma cláusula que vedava o uso dos ativos do novo banco para cobrir problemas do Master, mas, na avaliação do BC, a medida não trouxe segurança jurídica suficiente. A operação acabou vetada e reacendeu os debates sobre a real situação financeira do Master, que tem cerca de R$ 62,2 bilhões em depósitos elegíveis à cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

Caso o banco não consiga honrar seus compromissos, o FGC teria de arcar com os pagamentos de CDBs de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, podendo enfrentar o maior desembolso de sua história. Isso transformaria a dívida em uma obrigação direta de Vorcaro com o fundo, em um processo que ainda levanta muitas incertezas sobre a capacidade de liquidez da instituição.

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