O BTG Pactual avalia que o ciclo de cortes da Selic pode começar já em janeiro de 2026, com reduções de até 300 pontos-base ao longo do ano. A análise se baseia na desaceleração da atividade econômica, agravada pelo crédito mais restrito e pelo alto endividamento das famílias, o que aponta para estagnação no curto prazo. Apesar da queda nas expectativas de inflação, a recente piora da dinâmica inflacionária e o tom mais suave do Federal Reserve podem influenciar o ritmo dos cortes.
Empresas com dívida indexada à Selic são as principais beneficiadas, sobretudo as mais alavancadas e com margens apertadas. O BTG aponta que 31% da dívida corporativa no Brasil está atrelada à taxa básica, proporção maior em companhias domésticas (47%) do que em exportadoras, mais expostas ao dólar.
Setores como varejo e construção civil, especialmente voltada ao público de médio e alto padrão, tendem a sentir mais diretamente os efeitos da queda dos juros, já que o crédito mais barato aumenta consumo e vendas.
Exemplos do ciclo de 2016 mostram ganhos expressivos: Natura, Renner e Magazine Luiza dispararam no varejo, enquanto Cyrela e Eztec se destacaram na construção. Empresas com dívida integralmente atrelada à Selic, como Assaí, também tendem a responder rapidamente às reduções da taxa. Outras áreas, como shoppings, utilities, logística e locação de veículos, também podem ser favorecidas, embora de forma mais indireta.
Já bancos, seguradoras e companhias com caixa líquido elevado, como Ambev, WEG, B3 e algumas de tecnologia, podem perder receita financeira com juros menores. Por outro lado, o histórico mostra que quedas da Selic impulsionam o Ibovespa, com altas de 31% em 2011 e 73% em 2016 (ex-Petro&Vale). Ainda assim, o impacto depende também do humor dos investidores estrangeiros e das condições macroeconômicas globais.
No geral, a redução da Selic tende a estimular setores sensíveis ao crédito e a atrair fluxo externo para a bolsa brasileira, reforçando o potencial de valorização de empresas ligadas ao consumo, à construção e a serviços dependentes de financiamento.