O ressurgimento das tensões comerciais entre Estados Unidos e China reacendeu a volatilidade nos mercados globais e encerrou uma semana que vinha sendo marcada por relativa calmaria. O anúncio do presidente americano Donald Trump, na noite de sexta-feira (10), sobre a imposição de tarifas adicionais a produtos chineses alterou rapidamente o humor dos investidores e provocou um movimento generalizado de aversão ao risco, em meio à paralisação da divulgação de dados econômicos dos EUA devido ao “shutdown” do governo.
Para Patrick Locke, estrategista de câmbio do J.P. Morgan, a mudança de tom de Trump foi abrupta e inesperada, principalmente após a recente conversa com o presidente chinês Xi Jinping, que havia levado o mercado a acreditar em um adiamento nas negociações comerciais. O resultado foi uma reação imediata dos ativos: moedas emergentes perderam valor, ativos considerados seguros, como iene, franco suíço e ouro, se valorizaram e as bolsas de Nova York registraram forte queda. Segundo Locke, esse movimento foi potencializado por um cenário técnico delicado, marcado por operações de “carry trade” concentradas em emergentes e posições vendidas no dólar que ficaram vulneráveis.
A decisão da Casa Branca também mudou a dinâmica de curto prazo dos mercados. Para os analistas do Barclays, embora a nova rodada de tarifas reacenda a incerteza sobre a política comercial americana, o prazo de implementação — marcado para 1º de novembro — ainda permite a possibilidade de uma solução negociada. Entretanto, com a ausência de indicadores econômicos dos Estados Unidos devido à paralisação parcial do governo, toda a atenção dos investidores se voltou para as notícias tarifárias, intensificando a volatilidade dos mercados.
O posicionamento técnico dos investidores também contribuiu para a reação. De acordo com Locke, enquanto o câmbio nos mercados desenvolvidos passou por uma correção ao longo da semana, com o dólar se fortalecendo frente ao iene e ao euro, a maior parte dos demais ativos estava sobrecomprada, tornando-se mais sensível ao choque. A equipe de estratégia de renda fixa do Goldman Sachs destacou que as declarações de Trump interromperam a recente estabilidade dos mercados globais de juros, que vinham operando sob baixa volatilidade.
O ambiente de “carry trade”, caracterizado pela busca por retornos em países com juros mais altos, havia se consolidado nas últimas semanas e deixou os mercados mais expostos a mudanças bruscas no cenário global. Como resposta a esse novo quadro, o Goldman Sachs anunciou uma posição tática em opções de compra sobre futuros de juros com vencimento em dezembro de 2026, apostando em uma possível queda nas taxas americanas diante do aumento dos riscos comerciais.
Com a tensão renovada entre as duas maiores economias do mundo e a falta de dados econômicos concretos sobre a atividade nos Estados Unidos, os mercados globais voltaram a operar sob forte volatilidade e incerteza, com investidores priorizando a segurança e reduzindo a exposição a ativos de risco.