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Instabilidade política e guerra tarifária impulsionam alta do dólar e aumentam o risco Brasil

Moeda americana rompe resistência técnica após derrota da MP 1303 e tensão no cenário externo

O dólar voltou a ganhar força no mercado cambial depois de semanas de consolidação, rompendo uma resistência técnica e refletindo uma combinação de fatores internos e externos que ampliaram o clima de incerteza entre investidores. A piora das expectativas fiscais, a antecipação do cenário eleitoral de 2026 e a escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China contribuíram para a alta recente da moeda americana, que voltou a ser o principal termômetro do risco-Brasil.

O analista da Clear Corretora Rafael Perretti destaca que a pressão sobre o câmbio está diretamente ligada ao ambiente político e econômico do país. A derrubada da MP 1303, que previa medidas para elevar a arrecadação federal, acentuou dúvidas sobre a capacidade do governo de cumprir suas metas fiscais em um ano pré-eleitoral. Entre as medidas frustradas estavam a criação de uma alíquota única de 18% sobre aplicações financeiras, a taxação de dividendos em 10% e a cobrança de 5% sobre investimentos antes isentos, como LCI, LCA, CRI e CRA.

A ampliação da isenção do Imposto de Renda para salários até R$ 5 mil, sem contrapartidas para compensar a perda de arrecadação, também acendeu o alerta entre investidores. Segundo Perretti, a proximidade das eleições acrescenta mais volatilidade ao mercado, já que a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontra em um ponto de equilíbrio — 49% de reprovação e 48% de aprovação — o que indica uma disputa acirrada em 2026. Ele alerta que medidas populistas, como a tentativa recente de isentar tarifas de ônibus, podem aumentar ainda mais a pressão sobre o orçamento.

No cenário internacional, o aumento das tarifas imposto pelos Estados Unidos contra a China adicionou um novo componente de risco. O anúncio do governo Trump de taxar em 100% os produtos chineses elevou o temor de uma desaceleração econômica global e aumentou a probabilidade de estagflação, cenário que combina inflação elevada com crescimento fraco. Perretti ressalta que o impacto da medida ainda é incerto, já que o envolvimento direto dos EUA no conflito comercial pode alterar a dinâmica do dólar, tradicionalmente visto como refúgio em períodos de aversão ao risco.

Em situações normais, investidores recorrem à moeda americana como proteção, mas, com os Estados Unidos no centro da disputa tarifária, há possibilidade de que o dólar também sofra desvalorização. A guerra comercial pode provocar alta de preços e desaceleração da atividade global, ampliando o risco de estagnação prolongada.

No Brasil, o cenário técnico também reforçou a recente valorização do dólar. Após passar boa parte de 2025 em tendência de baixa e entrar em movimento lateral a partir de setembro, a moeda superou a resistência em 5.420 pontos, impulsionada pelo ambiente de incerteza fiscal e política. A trajetória reflete não apenas fatores técnicos, mas também os fundamentos macroeconômicos e eleitorais que dominam o horizonte.

Perretti avalia que a segunda-feira (13) será crucial para entender o comportamento do câmbio diante do novo ambiente global. A combinação de desequilíbrio nas contas públicas, guerra comercial e antecipação eleitoral criou um quadro que pode prolongar a valorização do dólar e aumentar a percepção de risco sobre a economia brasileira.

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