O Banco do Japão elevou a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, em linha com as expectativas do mercado, levando o patamar dos juros ao nível mais alto em cerca de 30 anos. A decisão reforça a mudança de postura da autoridade monetária japonesa após décadas de política extremamente acomodatícia e indica que o ciclo de aperto monetário ainda não está encerrado.
De acordo com a analista de Macroeconomia da InvestSmart XP, Sara Paixão, a comunicação do banco central japonês sugere que novas elevações podem ocorrer ao longo do próximo ano, ainda que com possíveis pausas para avaliação dos efeitos acumulados da política monetária sobre a economia. Segundo ela, o guidance permaneceu aberto, permitindo ajustes adicionais caso o cenário inflacionário exija.
Após um longo período marcado por deflação e crescimento econômico moderado, o Japão passou a registrar uma aceleração dos preços a partir de 2021. A inflação atingiu o pico de 3,3% em outubro de 2023, movimento que levou o Banco do Japão a iniciar o processo de normalização da política monetária. A autoridade monetária busca, com isso, conter pressões inflacionárias mais persistentes, sem comprometer de forma abrupta a atividade econômica.
Sara Paixão destaca, contudo, que o ambiente macroeconômico japonês segue complexo, especialmente diante dos sinais de uma política fiscal expansionista por parte do governo. Segundo a analista, esse estímulo fiscal pode reduzir parte do impacto do aperto monetário, exigindo cautela adicional por parte do banco central na condução das próximas decisões.
Outro ponto relevante mencionado por Paixão é o papel histórico do iene no mercado financeiro internacional. Durante anos de juros muito baixos ou até negativos, a moeda japonesa foi amplamente utilizada em operações de carry trade, nas quais investidores captam recursos a baixo custo no Japão para aplicar em mercados com maior remuneração. Com a elevação dos juros, essas estratégias se tornam menos atrativas, o que pode levar ao desmonte de posições e ao aumento da volatilidade nos mercados globais.
Segundo a analista da InvestSmart XP, esse movimento ajuda a explicar por que a política monetária japonesa esteve entre os principais temas acompanhados pelos investidores ao longo do último ano. A expectativa é que os juros do Japão continuem no centro das discussões de alocação global em 2026, especialmente pelo potencial impacto sobre fluxos de capital e estratégias internacionais de investimento.
