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Oferta bilionária da Cosan pode diluir acionistas em mais de 100% e levanta questionamentos

Emissão de ações da Cosan a R$ 5 pode mais que dobrar o total de papéis em circulação, diluindo investidores em até 100%

A Cosan (CSAN3) enfrenta uma das operações de capital mais sensíveis de sua história. Com a oferta anunciada neste domingo (21), a empresa prepara a emissão de até 2 bilhões de ações ordinárias a R$ 5 por papel, valor um terço abaixo da cotação de sexta-feira (R$ 7,50). A diluição inicial pode chegar a 77,5% considerando a primeira tranche de R$ 1,45 bilhão, mas, com lote adicional e emissão completa de até 550 milhões de ONs, o efeito pode superar 100%, mais do que dobrando o número de ações no mercado.

A capitalização, que envolve um aporte de R$ 10 bilhões pelo BTG Pactual e pela gestora Perfin, tem como objetivo reduzir o endividamento da holding, hoje em cerca de R$ 17 bilhões. O grupo encerrou 2024 com dívida total de R$ 23,5 bilhões e prejuízo de R$ 9,4 bilhões, mesmo diante de receita de R$ 44 bilhões.

Fontes próximas à negociação afirmam que a operação foi a saída encontrada diante da deterioração financeira da companhia, marcada por alta alavancagem e falta de alternativas de liquidez rápida. “Fizeram o que foi possível. A situação era ruim e ainda não se resolve completamente. Mesmo com o aporte, há dívidas abaixo da holding que continuam pressionando”, disse uma pessoa a par do acordo.

Para aliados do controlador Rubens Ometto, porém, a operação traz alívio imediato. A relação dívida líquida/Ebitda deve cair de 3,7 vezes para algo entre 1,0 e 1,5 vez, fortalecendo o balanço e permitindo foco na retomada do crescimento. “A venda de ativos seria prejudicial, dado o desconto atual no mercado. Esse foi o melhor caminho”, afirmou uma fonte ligada à empresa.

O acordo firmado prevê que Ometto mantenha 50,01% das ações ordinárias e a presidência do conselho, mas, segundo apuração do Valor, o BTG pode assumir o controle de fato da Cosan em até seis anos. A operação inclui lock-up de quatro anos, que assegura a manutenção da governança no período inicial.

Ainda assim, a decisão gerou desconforto entre investidores. Neste domingo, assessores financeiros e bancos envolvidos na transação receberam ligações questionando por que a empresa não discutiu uma reestruturação de dívida em vez da diluição “brutal”. “Reestruturar dívida nem estava na mesa”, rebateu um executivo próximo ao grupo.

Além da insatisfação, uma gestora e um escritório de advocacia internacional sinalizaram que avaliam abrir uma class action nos EUA, alegando prejuízo aos acionistas minoritários diante do forte deságio da emissão.

No mercado, a expectativa é de reação negativa no pregão desta segunda-feira (22). Analistas preveem queda não apenas nos papéis da Cosan, mas também nas ações de empresas controladas pelo grupo, como Rumo (RAIL3) e Raízen (RAIZ4), diante da percepção de risco e incerteza sobre o futuro da holding.

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