O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou nesta segunda-feira (29) que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 15% reforça a necessidade de cautela diante de um cenário ainda incerto. Segundo ele, o BC “não pode agir com emoção”, mesmo após a deflação recente e a melhora das expectativas inflacionárias observadas pelo mercado.
Durante participação em um evento promovido pelo Itaú, em São Paulo, Galípolo destacou que o Copom entrou em uma nova fase de condução da política monetária, mais voltada para “esperar e recolher evidências sobre a convergência da inflação para a meta”. Ele lembrou que essa postura, descrita como mais humilde e analítica, já havia sido sinalizada na última comunicação oficial do Comitê. “Essa postura mais humilde do BC, de reunir mais informações antes de incorporar cenários, tem se mostrado correta”, disse.
O objetivo do Banco Central é trazer a inflação acumulada em 12 meses para a meta de 3%, que é considerada cumprida se ficar entre 1,5% e 4,5%. Embora os sinais de desaceleração da atividade econômica reforcem a percepção de um processo de moderação em curso, Galípolo ponderou que a instituição precisa considerar um conjunto mais amplo de indicadores. No segundo trimestre de 2025, por exemplo, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu apenas 0,4%, mas, ao mesmo tempo, o consumo das famílias se expandiu, apoiado no mercado de trabalho aquecido.
Ao ser questionado sobre a manutenção da Selic em um nível elevado, mesmo diante de deflação e crescimento mais fraco, Galípolo enfatizou que “não existe um único indicador capaz de definir a trajetória da política de juros”. Para ele, a resiliência do mercado de trabalho é uma das principais razões para a manutenção da taxa, já que pressiona especialmente a inflação de serviços.
“Mesmo com juros em patamar restritivo, vemos um mercado de trabalho robusto. Esse é um debate que o Brasil precisará enfrentar como sociedade: como conviver com juros altos e, ainda assim, uma economia resistente”, afirmou.
Em agosto, a inflação de serviços registrou desaceleração em relação a julho, mas ainda acumula alta de 6,17% em 12 meses — bem acima do IPCA cheio e do centro da meta de inflação. Esse núcleo, visto como um termômetro da demanda interna, reflete diretamente o comportamento do consumo e a força do mercado de trabalho, fatores que, segundo o BC, justificam a necessidade de manter a política monetária em compasso de espera.