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Títulos atrelados à Selic sentem pressão após MP 1.303 e avanço de prêmios de risco

Movimento em títulos atrelados à Selic indica início de contágio do aumento dos prêmios de risco

O aumento dos prêmios de risco observados recentemente nos mercados de juros e de títulos públicos começou a dar sinais de que pode atingir também as LFTs — papéis do Tesouro Nacional atrelados à taxa Selic, considerados o ativo livre de risco no mercado brasileiro.

Na terça-feira (7), houve uma alta leve nas taxas das LFTs de prazos mais longos, em um movimento ainda discreto, mas que acendeu um sinal de alerta entre operadores. A taxa da LFT com vencimento em março de 2030 passou de 0,1025% para 0,1070%, enquanto o papel para setembro de 2031, o mais longo atualmente emitido, subiu de 0,1078% para 0,1096%.

Embora o ajuste seja pequeno, o movimento é relevante porque o mercado de LFT costuma registrar oscilações contidas e baixa volatilidade. Segundo operadores, o aumento das taxas ocorre em meio à incerteza gerada pela Medida Provisória 1.303, que extingue a “escadinha” de alíquotas — mecanismo que beneficiava investimentos de longo prazo — e eleva a tributação sobre fundos de investimento, muitos dos quais têm forte exposição a títulos públicos.

“Esses papéis agora enfrentam ventos contrários mais fortes”, afirma um trader de renda fixa de um grande banco. “A MP 1.303 aumenta a carga tributária sobre fundos que utilizavam LFTs para se enquadrar em uma regra preferencial. Esse benefício, na prática, deixaria de existir.”

Na avaliação do mercado, a mudança pode gerar pressão sobre o custo de captação do Tesouro Nacional, já que investidores tenderiam a migrar para instrumentos isentos, como LCIs e LCAs, agora ainda mais atrativos após a manutenção de sua isenção de Imposto de Renda.

“Participantes do mercado já estão precificando um custo maior para o Tesouro”, explica outro operador. “A MP amplia a distorção entre papéis isentos e títulos públicos, e isso naturalmente exige um prêmio adicional para manter esses papéis em carteira.”

Até o momento, não há sinais de venda abrupta de títulos públicos, mas o movimento é visto como um ponto de inflexão: a combinação entre incerteza tributária, menor atratividade relativa das LFTs e volatilidade fiscal começa a testar o equilíbrio de um dos segmentos mais estáveis do mercado de renda fixa brasileiro.

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