A agenda econômica de 13 a 17 de outubro de 2025

O clima de trégua entre Estados Unidos e China chegou ao fim. Após perder o Prêmio Nobel da Paz de 2025, o presidente americano Donald Trump retomou um tom agressivo e anunciou, na sexta-feira (10), novas tarifas de 100% sobre produtos chineses e o controle total sobre a exportação de softwares críticos para o país asiático. A decisão foi comunicada depois do fechamento dos mercados e marca a escalada mais dura desde o auge da guerra comercial.

A resposta de Pequim havia vindo dois dias antes, quando a China ampliou o controle sobre cinco novos elementos de terras-raras e aumentou a vigilância sobre usuários de semicondutores, restringindo dezenas de tecnologias de refino. Esses materiais são essenciais para a fabricação de eletrônicos, baterias de veículos elétricos e outros produtos estratégicos da indústria global. O endurecimento chinês elevou a tensão entre as duas potências e levou Trump a cancelar um encontro previsto com o presidente Xi Jinping, aprofundando o clima de instabilidade.

A reação dos mercados foi imediata. O aumento das tarifas e a suspensão do diálogo entre as maiores economias do mundo provocaram forte aversão ao risco: moedas emergentes se desvalorizaram, ativos considerados seguros, como ouro, iene e franco suíço, ganharam força, e as bolsas de Nova York registraram quedas expressivas. Analistas esperam que a volatilidade continue na próxima semana, a menos que sinais de trégua surjam nos próximos dias.

O cenário global se complica ainda mais com a paralisação parcial do governo americano, que interrompeu a divulgação de diversos indicadores econômicos. Com isso, os poucos dados disponíveis, como o Livro Bege do Federal Reserve (Fed) — relatório que avalia atividade econômica, inflação e emprego —, ganharão peso maior nas análises dos investidores. O documento será divulgado na quarta-feira (15) e pode influenciar as expectativas sobre a política monetária dos Estados Unidos.

Entre 13 e 17 de outubro, a reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial reunirá autoridades monetárias dos principais bancos centrais do mundo em um ambiente de alta tensão comercial e incerteza econômica. O Fed, liderado por Jerome Powell, tende a manter uma postura cautelosa, ponderando entre a necessidade de conter a inflação — potencialmente pressionada pelas tarifas — e o objetivo de preservar o pleno emprego. Diante do novo cenário, cresce a expectativa de manutenção dos juros entre 4% e 4,25% como medida preventiva.

No Brasil, a atenção da próxima semana se volta aos indicadores de agosto, com destaque para as vendas no varejo, o volume de serviços e o IBC-Br, considerado uma prévia do PIB. O Boletim Focus, que trará novas projeções de inflação e taxa Selic, também será monitorado de perto, especialmente em meio às incertezas fiscais após a rejeição da Medida Provisória que previa aumento de arrecadação. A política fiscal e o “pacote de bondades” do governo para 2026 devem pesar mais do que os fundamentos econômicos na hora de estimar a inflação de longo prazo.

A discussão sobre política monetária ganhou novos contornos após declarações do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, durante o lançamento do novo modelo de crédito imobiliário. Ele afirmou que a medida pode aumentar a “potência monetária” — um estímulo econômico que pode, na prática, reduzir a eficácia dos aumentos de juros para conter a inflação.

O ambiente global incerto e a retomada da guerra comercial também coincidem com o início da temporada de balanços do terceiro trimestre em Wall Street. Na terça-feira (14), os maiores bancos dos Estados Unidos divulgarão seus resultados, inaugurando um ciclo de números corporativos que poderá reforçar — ou aliviar — a percepção de risco nos mercados.