O Banco Master passará por uma mudança integral de controle após a assinatura de um acordo de venda para um consórcio formado pela Fictor Holding Financeira e investidores dos Emirados Árabes Unidos. O anúncio marca uma nova etapa no processo de reestruturação da instituição, que vinha buscando alternativas de capitalização desde o início do ano para enfrentar dificuldades financeiras. A operação prevê aporte imediato de R$ 3 bilhões para reforço do capital regulatório, e ainda depende da avaliação do Banco Central e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica.
De acordo com o comunicado divulgado nesta segunda-feira, os investidores estrangeiros envolvidos na oferta administram mais de US$ 100 bilhões em ativos. Com a conclusão do processo regulatório, o consórcio assumirá todas as ações hoje pertencentes ao controlador Daniel Vorcaro, que deixará a administração da instituição após a definição de um novo presidente. O negócio, no entanto, não inclui o Willbank e o Banco Master de Investimentos, que seguem em tratativas paralelas com outros grupos.
A Fictor, que nos últimos anos ampliou sua presença nos setores financeiro e energético utilizando capital gerado principalmente pela área de alimentos, faz sua primeira incursão direta no sistema bancário. A companhia tem origem no interior paulista e passou a operar no mercado de capitais após uma listagem em 2024 por meio de um processo de aquisição reversa. Em nota, a Fictor afirmou que pretende combinar sua estrutura de distribuição com os produtos já existentes no Master para ampliar o alcance da instituição.
A venda ocorre em um contexto de pressões que se intensificaram após mudanças regulatórias implementadas pelo Banco Central no fim de 2023. As novas regras para gestão de liquidez e exposição a riscos evidenciaram fragilidades do Master, que vinha expandindo suas captações por meio de CDBs garantidos pelo Fundo Garantidor de Créditos enquanto aumentava a exposição a ativos de maior risco, como precatórios e ações de empresas de menor porte. O descompasso entre o perfil dos passivos e os investimentos pressionou os indicadores de capitalização e levou a instituição a adotar medidas emergenciais ao longo de 2024 e 2025.
O banco havia anunciado em março um acordo para ser adquirido pelo BRB, mas o Banco Central rejeitou a operação em setembro. Em paralelo, Vorcaro aportou R$ 2 bilhões para reforçar o caixa e realizou venda de ativos relevantes ao BTG Pactual, incluindo participações na Light e na Méliuz. Ainda assim, o cenário de tensão regulatória e a deterioração da confiança do mercado levaram a instituição a buscar outra solução para estabilizar sua posição financeira.
O processo de venda ao BRB também se tornou alvo de investigações no Tribunal de Contas da União, no Ministério Público Federal e em autoridades do Distrito Federal, que apuram pontos relacionados ao modelo de expansão do banco e à solidez das operações. A incerteza atingiu empresas e fundos com maior exposição a títulos emitidos pelo Master, aumentando o risco percebido pelos investidores e elevando os retornos exigidos no mercado secundário.
O acordo anunciado nesta segunda-feira representa a tentativa mais robusta de recomposição da estrutura de capital do banco desde o início da crise. O consórcio afirma que o objetivo é recolocar a instituição em trajetória de estabilidade e ampliar sua atuação no mercado brasileiro após a conclusão das análises regulatórias.









