FGV Ibre alerta que cenário econômico brasileiro aponta para risco de alta nos juros

O ambiente econômico global pode ter dado uma trégua temporária, mas o cenário doméstico no Brasil continua a ser motivo de preocupação

O ambiente econômico global pode ter dado uma trégua temporária, mas o cenário doméstico no Brasil continua a ser motivo de preocupação, segundo o mais recente Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). A perspectiva de estabilização da inflação a médio prazo ainda é incerta, e a possibilidade de o Banco Central ser forçado a aumentar a taxa de juros está cada vez mais presente.

De acordo com Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro, "Ainda não sabemos se haverá necessidade de subir [os juros]. Mas o risco, com certeza, é mais de alta do que de eventual queda à frente". A economista destaca que uma política fiscal mais sólida, aliada a metas inflacionárias bem definidas, poderia ter aberto espaço para a redução dos juros, algo que foi comprometido por questões internas.

Alívio Externo, Pressão Interna

O mês de agosto apresentou sinais de um possível “final feliz” para os mercados internacionais, após um período de alta volatilidade, especialmente nos Estados Unidos, onde o índice de volatilidade da bolsa (S&P 500) alcançou o maior nível em quatro anos. A melhora no cenário inflacionário dos EUA sugere que o Federal Reserve (Fed) pode começar a cortar os juros em setembro, o que traria alívio para os mercados emergentes, incluindo o Brasil. Esse alívio já é sentido no câmbio, com o dólar recuando de R$ 5,76 para abaixo de R$ 5,50.

No entanto, o Brasil enfrenta uma situação paradoxal. Enquanto o mercado de trabalho nacional segue aquecido, com a taxa de desemprego em 6,9%, a menor desde 2014, e a renda nominal em crescimento, a inflação continua a ser uma preocupação central. A atividade econômica, medida pelo Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br), subiu 1,4% em junho, acima das expectativas, impulsionando uma revisão das previsões de crescimento do PIB para 2024 de 2,2% para 2,3%.

Inflação Persistente e Riscos Fiscais

Apesar do desempenho robusto da economia, o Boletim Macro aponta para uma piora no cenário inflacionário devido à depreciação do real e ao impacto de fatores externos e internos. O relatório Focus, do Banco Central, revelou um aumento nas expectativas de inflação para 2024, com a mediana das projeções subindo para 4,22%. Um novo levantamento realizado pela pesquisa Firmus, também do Banco Central, mostrou que as expectativas de inflação das empresas não financeiras são ainda mais pessimistas, com previsões de 4% em 2024 e 4% em 2025.

Os economistas da FGV Ibre, Silvia Matos e Armando Castelar Pinheiro, enfatizam que esses choques, tanto externos quanto internos, reforçam a necessidade de vigilância por parte do Banco Central. "Tudo leva a crer que teremos inflação mais alta e persistente", alertam.

Selic em Foco: Elevação à Vista?

Após um ciclo de quedas, a taxa básica de juros, Selic, estabilizou em 10,5%. No entanto, com o cenário inflacionário se deteriorando, cresce a expectativa de que o Banco Central possa ser forçado a elevar a Selic já em setembro. José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do FGV Ibre, prevê que o Comitê de Política Monetária (Copom) aumente a Selic em 50 pontos base na próxima reunião.

"Se o BC optar por não alterar a Selic, corre o risco de comprometer sua credibilidade, a menos que ocorra uma reviravolta significativa no cenário", afirma Senna. Ele ressalta, porém, que o Banco Central pode decidir elevar a Selic sem se comprometer com novas altas, aguardando os desdobramentos do afrouxamento monetário nos EUA e das questões fiscais internas.

Conclusão

O cenário econômico brasileiro, embora robusto em alguns aspectos, enfrenta desafios significativos, especialmente no que diz respeito à inflação e à política monetária. O Boletim Macro da FGV Ibre deixa claro que o risco de alta nos juros é real, e o caminho para a estabilidade econômica ainda é incerto, dependente tanto de fatores externos quanto da capacidade do país em gerenciar suas questões fiscais e inflacionárias.