O que são CBDCs e como funcionam

As CBDCs representam a evolução natural do dinheiro em um mundo cada vez mais digital

Nas últimas décadas, o avanço das tecnologias digitais tem transformado diversas áreas da economia, e o setor financeiro não é exceção. O surgimento de métodos de pagamento digitais, como carteiras virtuais e criptomoedas, trouxe novas possibilidades para transações financeiras e desafiou as estruturas tradicionais. Neste cenário de inovação, as Moedas Digitais de Bancos Centrais, conhecidas como CBDCs (Central Bank Digital Currencies), começaram a ganhar destaque como uma solução que une a modernidade da tecnologia digital com a confiança e estabilidade das moedas emitidas por governos.

As CBDCs representam a evolução natural do dinheiro em um mundo cada vez mais digital. Elas são emitidas diretamente pelos bancos centrais e têm o potencial de modificar profundamente a maneira como interagimos com o dinheiro, oferecendo segurança, eficiência e novos modelos de transação que podem impactar a economia global de maneira significativa. Em muitos aspectos, as CBDCs são vistas como uma resposta das autoridades financeiras à crescente popularidade das criptomoedas descentralizadas, como o Bitcoin, e à demanda por sistemas de pagamento mais rápidos, seguros e inclusivos.

No entanto, ao mesmo tempo em que trazem muitas promessas, as CBDCs também geram debates e preocupações sobre a privacidade, a segurança e o impacto no sistema financeiro tradicional. Os bancos centrais ao redor do mundo, incluindo o Banco Central do Brasil, estão explorando maneiras de implementar essas moedas digitais de forma que aproveitem suas vantagens tecnológicas sem comprometer a estabilidade financeira.

Estrutura e Funcionamento

As Moedas Digitais de Bancos Centrais (CBDCs) representam uma inovação no sistema financeiro mundial, e sua estrutura e funcionamento diferem significativamente das moedas físicas e até das criptomoedas descentralizadas. Para entender como as CBDCs funcionam, é necessário analisar sua arquitetura, os sistemas de emissão e distribuição, além de suas características técnicas e operacionais.

1.1 Emissão pelas Autoridades Centrais

Ao contrário das criptomoedas, como o Bitcoin, que são descentralizadas e operam em uma rede de usuários, as CBDCs são emitidas e controladas exclusivamente por bancos centrais. Isso significa que a autoridade monetária de cada país ou bloco econômico, como o Banco Central do Brasil ou o Banco Central Europeu, possui total controle sobre a emissão, distribuição e política monetária associada à CBDC.

No caso de uma moeda física, como o real ou o dólar, o banco central controla a impressão de cédulas e moedas. No contexto digital, esse controle é traduzido em códigos digitais que representam o valor da moeda. No entanto, diferentemente do dinheiro físico, a moeda digital pode ser programável, o que abre portas para novas funcionalidades, como pagamentos automáticos, regras de uso e condições específicas para transações, algo que não é possível com o dinheiro em espécie.

1.2 Sistema de Distribuição

A forma como uma CBDC é distribuída pode variar. Um dos modelos mais discutidos é o sistema de camadas, onde o banco central emite a CBDC para instituições financeiras autorizadas, como bancos comerciais, que, por sua vez, distribuem aos consumidores finais. Esse modelo é conhecido como o modelo de duas camadas ou "two-tier model". Nele, as instituições financeiras atuam como intermediárias, permitindo que o banco central mantenha um certo nível de controle sem lidar diretamente com o público.

Outro modelo possível é o modelo direto, em que o banco central distribui a moeda digital diretamente aos cidadãos e empresas por meio de contas digitais controladas pela própria autoridade monetária. Esse modelo, no entanto, levanta questões sobre a necessidade de bancos comerciais, já que as pessoas poderiam manter seus recursos diretamente no banco central.

1.3 Carteiras Digitais e Pagamentos

Os usuários de CBDCs utilizariam carteiras digitais para armazenar e realizar transações com a moeda. Essas carteiras poderiam ser geridas por instituições financeiras, fintechs ou até diretamente pelo próprio banco central, dependendo do modelo adotado. Essas carteiras seriam acessíveis por meio de dispositivos móveis, computadores ou até terminais físicos em bancos e pontos de venda.

Ao contrário das transações com dinheiro em espécie, as transações com CBDCs podem ser rastreadas e auditadas em tempo real. Isso oferece vantagens no combate a crimes como a lavagem de dinheiro e a evasão fiscal. Contudo, também levanta questões sobre a privacidade das transações, um tema que será abordado com mais profundidade nos capítulos posteriores.

1.4 Tecnologia Subjacente

A tecnologia por trás das CBDCs pode variar, dependendo da abordagem escolhida pelos bancos centrais. Muitos projetos de CBDCs utilizam a tecnologia de registro distribuído (DLT, na sigla em inglês), que é o mesmo princípio que fundamenta as criptomoedas, como o Bitcoin. A DLT permite que as transações sejam registradas em um livro-razão digital que é compartilhado entre múltiplas partes, assegurando transparência e integridade das operações.

Contudo, diferentemente das criptomoedas, que operam em redes descentralizadas, as CBDCs usam um sistema centralizado ou parcialmente centralizado, onde o banco central mantém controle sobre a verificação das transações e a emissão de novas moedas digitais. Algumas nações, como a China com seu yuan digital, estão adotando um sistema híbrido, no qual o governo controla o núcleo da rede, mas permite que instituições autorizadas participem de aspectos operacionais.

Vantagens sobre o Dinheiro Tradicional

A introdução das CBDCs traz uma série de vantagens sobre o dinheiro tradicional, seja ele em papel ou mesmo os meios eletrônicos convencionais, como transferências bancárias ou pagamentos com cartões de crédito. As principais vantagens incluem:

1.5 Rapidez e Eficiência nas Transações

Com uma CBDC, as transações podem ser realizadas quase que instantaneamente, eliminando a necessidade de intermediários e reduzindo o tempo de processamento, que atualmente pode levar dias em sistemas bancários convencionais. Por exemplo, transferências internacionais de dinheiro, que tradicionalmente demoram de dois a cinco dias úteis para serem processadas, poderiam ser concluídas em questão de segundos ou minutos, uma vez que não precisariam passar por sistemas bancários correspondentes ou mecanismos de compensação.

1.6 Redução de Custos de Transação

Com menos intermediários envolvidos no processo de pagamento, as taxas associadas às transações podem ser drasticamente reduzidas. Isso é particularmente relevante para remessas internacionais, onde as taxas cobradas por bancos e provedores de serviços financeiros podem ser elevadas. As CBDCs podem tornar esses serviços mais acessíveis e reduzir os custos para consumidores e empresas.

1.7 Segurança e Resiliência

As moedas digitais de bancos centrais podem oferecer um nível maior de segurança em comparação com o dinheiro em espécie, que pode ser perdido, roubado ou falsificado. A natureza digital e a infraestrutura robusta que suporta as CBDCs oferecem uma camada adicional de proteção contra fraudes. Além disso, em momentos de crise, como pandemias ou desastres naturais, onde o acesso físico ao dinheiro pode ser interrompido, as CBDCs podem garantir a continuidade das transações econômicas.

CBDCs e Criptomoedas: Diferenças Principais

Embora as CBDCs sejam frequentemente comparadas a criptomoedas como o Bitcoin, existem diferenças fundamentais entre elas:

1.8 Controle Centralizado vs Descentralizado

A característica mais marcante das CBDCs é que elas são centralizadas, ou seja, emitidas e controladas por um banco central. Em contraste, criptomoedas como o Bitcoin são descentralizadas, o que significa que não há uma única entidade controlando sua emissão ou verificando as transações. Esse controle centralizado nas CBDCs permite que os bancos centrais mantenham a estabilidade econômica e controlem a política monetária de forma eficiente.

1.9 Estabilidade de Valor

As CBDCs são projetadas para manter um valor estável, atrelado à moeda fiduciária do país emissor. O objetivo é que uma CBDC tenha o mesmo valor que uma unidade de sua contraparte física. Por exemplo, um real digital valeria o mesmo que uma moeda de um real em espécie. Já as criptomoedas podem ser extremamente voláteis, com seu valor flutuando significativamente ao longo do tempo, tornando-as menos estáveis para uso no dia a dia.

1.10 Legalidade e Reconhecimento Governamental

As CBDCs têm status de moeda oficial, reconhecidas e respaldadas pelo governo. Isso significa que elas têm curso legal e podem ser usadas para pagamentos e liquidação de dívidas em qualquer lugar dentro do país emissor. Já as criptomoedas, em muitos casos, não têm reconhecimento legal, e seu uso como meio de pagamento pode ser limitado ou até ilegal em alguns países.