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O Banco Central divulgou nesta terça-feira (4) a ata da 268ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), explicando os motivos para a segunda elevação consecutiva da taxa Selic, que subiu de 12,25% para 13,25% ao ano. O documento mantém a previsão de um novo aumento de 1 ponto percentual em março, levando a Selic para 14,25%. A ata não sinaliza o fim do ciclo de aperto monetário, destacando o "firme compromisso" do BC em controlar a inflação, que deve ultrapassar o teto da meta em junho.
De acordo com o Copom, o cenário inflacionário permanece "desafiador", impulsionado pelo aumento recente dos preços de alimentos, especialmente das carnes, o que tende a gerar efeitos duradouros devido a mecanismos inerciais da economia brasileira. A inflação de serviços, que representa 70% do PIB, também segue acima do esperado, pressionando ainda mais o índice geral de preços.
As projeções para a inflação foram revisadas para cima por diferentes grupos de analistas, o que preocupa o Comitê. A desancoragem das expectativas inflacionárias é vista como um fator crítico, já que torna o processo de desinflação mais custoso para a atividade econômica. O Copom prevê que o IPCA, índice oficial de inflação, ultrapassará o teto da meta de 4,5% por seis meses consecutivos, forçando o BC a justificar o descumprimento do objetivo ainda em junho.
No campo fiscal, o Copom continua monitorando de perto o impacto das contas públicas na inflação e na política monetária. A ata ressalta a importância de políticas fiscal e monetária alinhadas, alertando que a falta de disciplina fiscal, o aumento do crédito direcionado e as incertezas sobre a dívida pública podem elevar a taxa de juros neutra da economia. A sustentabilidade da dívida pública e o avanço de reformas estruturais também foram destacados como fatores essenciais para o equilíbrio macroeconômico.
O ambiente econômico global, especialmente nos Estados Unidos, é outro ponto de atenção do Copom. O ritmo de desaceleração da economia americana, o processo de desinflação e a postura do Federal Reserve (Fed) são fatores que tornam o cenário externo desafiador. Além disso, o Copom avalia que as tarifas impostas pelo presidente Donald Trump, assim como mudanças nos preços da matriz energética, podem impactar as condições financeiras e o fluxo de capitais para países emergentes, incluindo o Brasil. Caso esse cenário se concretize, o Brasil pode enfrentar a necessidade de um aperto monetário ainda maior.
Diante dessas incertezas, o Copom reforça a necessidade de cautela na condução da política monetária, afirmando que as próximas decisões dependerão do comportamento da inflação, das expectativas de mercado e do balanço de riscos. O Comitê reiterou que está comprometido com a convergência da inflação à meta, mas reconhece que o caminho para esse objetivo será desafiador, tanto no cenário interno quanto no externo.