Banco da Amazônia investiu R$ 39 milhões no Banco Master
Controlado pelo governo federal, Basa investiu duas vezes em 2024 em letras financeiras, que não contam com cobertura do FGC

O Banco da Amazônia (Basa), instituição estatal controlada pelo governo federal, investiu R$ 39 milhões em títulos do Banco Master em 2024, mesmo após o início de alertas no mercado financeiro sobre os riscos associados às práticas agressivas da instituição na emissão de CDBs. As operações ocorreram em abril e junho do ano passado, quando o Master já oferecia remuneração muito acima da média do mercado e estava sob o radar do Banco Central.

O investimento foi realizado por meio da compra de letras financeiras — um tipo de título de crédito que, diferentemente dos CDBs voltados a pessoas físicas, não conta com a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). A primeira operação envolveu R$ 25 milhões e a segunda, em junho, mais R$ 14 milhões, totalizando R$ 39 milhões. À época, o Banco Master tinha classificação de risco BBB pela agência Fitch, considerada abaixo do nível geralmente aceito por bancos públicos para ativos sem proteção do FGC.

Procurado, o Basa afirmou que as aplicações seguiram “todas as políticas e normas da instituição”, foram validadas por áreas técnicas e aprovadas por colegiados internos. O Banco Master não quis comentar o caso. A operação com o Basa chama atenção porque rompe o padrão de cautela de estatais na alocação de recursos, especialmente em títulos com maior risco de crédito.

O futuro desses investimentos, no entanto, é incerto. Em negociação com o Banco Regional de Brasília (BRB), que busca adquirir apenas parte dos ativos do Master — a chamada porção “good bank” —, ainda não está claro quem assumirá os compromissos associados às letras financeiras adquiridas pelo Basa. O BRB já informou que, após auditoria, irá selecionar os ativos que pretende absorver, deixando o restante fora do negócio.

O episódio envolvendo o Banco da Amazônia revela que não apenas fundos de pensão, mas também bancos públicos investiram em papéis de risco emitidos pelo Master. Reportagens anteriores já haviam apontado compras similares feitas por fundos de previdência de servidores de estados como Rio de Janeiro e Amapá. A emissão dessas letras foi uma estratégia do Master para manter captação em alta, após o Banco Central ter restringido, em dezembro de 2023, o uso intensivo dos CDBs como fonte de funding.

Na ocasião, o Banco Central publicou uma norma que impôs travas para conter a emissão excessiva de CDBs com cobertura do FGC, instrumento que o mercado avaliou como direcionado diretamente ao Master. Ainda assim, a instituição encerrou 2024 com R$ 49 bilhões em CDBs emitidos — valor equivalente a quase metade do total de recursos disponíveis no FGC (R$ 132 bilhões).

Segundo dados do próprio balanço do Master, a emissão de letras financeiras saltou de R$ 486 milhões em dezembro de 2023 para R$ 2,1 bilhões ao fim de 2024. Uma operação semelhante de venda de R$ 500 milhões em letras financeiras à Caixa Econômica Federal foi barrada após parecer técnico apontar alto risco. Dois funcionários que assinaram o alerta foram posteriormente afastados. A Caixa é presidida por Carlos Vieira, indicado pelo deputado Arthur Lira (PP-AL), enquanto o Basa é presidido por Luiz Moreira Lessa, nome ligado ao senador Eduardo Braga (MDB-AM). Nenhum dos dois políticos se manifestou.

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