Bancos caminham para lucro de R$ 29,3 bilhões no 1º trimestre
Resultado, se confirmado, representa alta de 11,2% em relação ao mesmo período de 2024; crédito pode ter desaceleração

A divulgação dos resultados do primeiro trimestre pelos grandes bancos brasileiros promete balizar as expectativas para o setor ao longo de 2025. Em um ambiente de Selic ainda elevada, analistas estarão atentos a sinais de desaceleração do crédito, embora a criação do novo consignado privado, lançado em março, possa representar um fator positivo para a expansão das carteiras.

As projeções indicam que Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e Banco do Brasil devem somar juntos um lucro consolidado de R$ 29,3 bilhões no primeiro trimestre, segundo a média de estimativas de nove casas consultadas pelo Valor. Se confirmado, o número representará uma queda de 1,6% em relação ao quarto trimestre de 2024, período historicamente mais fraco, mas um avanço de 11,2% na comparação com o mesmo período do ano passado, impulsionado pela recuperação de Bradesco e Santander.

Para os analistas do J.P. Morgan, a sazonalidade tende a limitar o crescimento de receitas, tarifas de serviços e margens financeiras, enquanto a valorização do real pode frear a expansão do crédito. A qualidade dos ativos também será um ponto de atenção, especialmente nos indicadores de atraso entre 15 e 90 dias, que já mostram sinais de deterioração, principalmente no setor agropecuário.

O Goldman Sachs aponta que, embora o trimestre seja impactado pela sazonalidade, a rentabilidade (ROE) dos bancos deve permanecer em níveis saudáveis. O setor de seguros, no entanto, pode ter um desempenho mais fraco, afetando especialmente instituições com forte presença nesse mercado, como o Bradesco. Por outro lado, alíquotas efetivas de impostos mais baixas devem amortecer parte dos impactos negativos.

A adoção do novo padrão contábil IFRS 9, decorrente da resolução 4.966 do Banco Central, pode dificultar a leitura dos números, destaca o analista Daniel Vaz, do Safra. Ele também observa que os bancos tradicionais devem manter uma postura de maior aversão ao risco diante da persistência do cenário de juros elevados.

A temporada de balanços trará ainda indícios sobre o desempenho inicial do novo consignado privado. Desde o lançamento, o volume liberado já soma R$ 8 bilhões, com atuação crescente dos grandes bancos, especialmente Banco do Brasil e Caixa, após um início dominado por financeiras e bancos digitais.

Entre os destaques individuais, o Itaú Unibanco deve manter seu bom momento, com projeção de lucro de R$ 11,1 bilhões, alta de 1,6% no trimestre, segundo o Bradesco BBI. O ROE do banco deve ficar em 22,4%, com uma expansão mais moderada da margem financeira devido ao menor número de dias úteis.

O Banco do Brasil, por sua vez, deve apresentar o pior desempenho entre os grandes, com queda de 5,1% no lucro trimestral, para R$ 9,1 bilhões. Analistas do Itaú BBA apontam que custos de funding elevados e despesas com provisões, associadas à adoção do modelo de perdas esperadas, devem pressionar os resultados.

Para o Bradesco, a projeção média é de lucro de R$ 5,4 bilhões. Segundo a Genial, a instituição continua avançando em seu processo de reestruturação, com fechamento de agências, segmentação no atendimento de alta renda e foco em eficiência operacional, o que deve sustentar a melhora gradual da rentabilidade, mesmo com crescimento mais contido da carteira de crédito.

O Santander, que abre a temporada nesta quarta-feira (30), deve reportar lucro de R$ 3,8 bilhões. A XP Investimentos projeta bom desempenho na receita de tarifas e estabilidade na inadimplência, embora a alta da Selic deva pressionar negativamente a margem com o mercado e encolher a carteira de crédito em 0,5% no trimestre.

O Nubank, que não integra a soma dos lucros dos grandes bancos, deve registrar resultado de US$ 555 milhões (aproximadamente R$ 3,1 bilhões). Para o Itaú BBA, o banco digital enfrenta aumento no custo de funding e pressão sobre a margem financeira, principalmente devido à redução da oferta de Pix Crédito e à nova estratégia de concessão de empréstimos pessoais para clientes de menor risco. As provisões devem crescer 16% em relação ao trimestre anterior, refletindo o perfil de sazonalidade mais pesada dos primeiros meses do ano.

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