Economistas preveem Selic acima de 15% ao ano
Especialistas afirmam que, sem um ajuste fiscal para reequilibrar as contas públicas, a alta dos juros se torna o principal instrumento para conter a escalada dos preços

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, nessa quarta-feira (29), elevar a taxa Selic para 13,25% ao ano, mantendo o ritmo de alta de 1 ponto percentual. A decisão veio em linha com as expectativas do mercado, mas analistas alertam que os juros podem ultrapassar 15% ao ano diante do cenário de inflação elevada.

Especialistas afirmam que, sem um ajuste fiscal para reequilibrar as contas públicas, a alta dos juros se torna o principal instrumento para conter a escalada dos preços.

Em comunicado, o Copom reafirmou a sinalização de um novo aumento na próxima reunião, em março, mas evitou indicar um ritmo de ajuste para maio. O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, acredita que a política monetária ainda exigirá novos aumentos para aproximar a inflação da meta do Banco Central.

Inflação persistente mantém expectativa de juros elevados

A meta de inflação para 2025 é de 3%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. No entanto, as projeções continuam subindo, e economistas já preveem juros entre 15% e 16%.

"Mesmo com o BC sinalizando sucessivas altas desde dezembro, o boletim Focus continua mostrando aumento nas expectativas de inflação. Isso significa que os juros podem subir mais do que o esperado", analisou Vale.

Já Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, avalia que a recente deterioração do cenário inflacionário pode levar o mercado a revisar suas previsões. "Antes, esperávamos que a Selic subisse até 15%. Agora, precisamos recalcular, e a taxa pode chegar a 16%", afirmou.

O sócio da WMS Capital, Marcos Moreira, defende que os juros precisam atingir 15,5% para impactar a atividade econômica e o mercado de trabalho de forma significativa. Segundo ele, a única alternativa para evitar juros tão altos seria a implementação de reformas fiscais estruturais para conter o déficit público.

“Provavelmente, no segundo trimestre, veremos sinais mais claros de desaceleração da economia e os primeiros impactos das altas da Selic sobre a inflação", explicou Moreira.

Críticas ao Banco Central e impacto no setor produtivo

A escalada dos juros preocupa o setor produtivo, que teme perda de competitividade e retração econômica. O presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Rafael Cervone, afirmou que espera uma abordagem mais equilibrada do Banco Central sob a liderança de Gabriel Galípolo.

“Embora seja fundamental controlar a inflação, a Selic em patamares elevados reduz a competitividade da indústria brasileira e compromete o crescimento econômico”, declarou Cervone.

O economista André Perfeito acredita que o aumento previsto para março pode ser o último do ciclo. "A Selic nesse nível já será suficiente para retrair o PIB e, com isso, o mercado revisará suas projeções de atividade e inflação", argumentou.

Nas redes sociais, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, criticou o aumento dos juros, classificando a decisão como prejudicial à economia. Segundo ela, a nova taxa encarece a dívida pública, restringe o acesso ao crédito e sufoca famílias endividadas.

Centrais sindicais também se manifestaram contra a decisão. A CUT afirmou que esperava que Galípolo interrompesse o processo de alta da Selic e condenou o aumento, alertando para mais pressões por reformas e cortes no orçamento. Já Miguel Torres, presidente da Força Sindical, classificou a medida como um "prêmio aos especuladores", alertando para efeitos negativos no emprego e na renda.

Selic pode atingir patamar da crise de 2015-2016

O boletim Focus, divulgado na segunda-feira (27), aponta que o mercado espera um IPCA de 5,5% ao final de 2025, acima da meta estabelecida pelo BC.

Desde a reunião de dezembro, o Copom já havia indicado um ciclo agressivo de alta da Selic para tentar conter a inflação. Se o comitê seguir com o novo aumento previsto para março, a taxa básica chegará a 14,25% ao ano, o mesmo nível registrado durante a crise econômica do governo Dilma Rousseff (PT), entre 2015 e 2016.

O aumento da Selic ocorreu em um dia de expectativa para os mercados globais, a chamada "superquarta", quando tanto o Banco Central do Brasil quanto o Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos divulgaram suas decisões sobre juros. Mais cedo, o Fed manteve as taxas americanas entre 4,25% e 4,50%, confirmando as projeções dos analistas.

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