Emissões de dívidas no exterior por empresas brasileiras aceleram no início de 2025
A corrida para acessar o mercado internacional tem sido impulsionada por taxas atrativas e pela reabertura das condições de captação

O mercado de dívida americano tem sido um destino prioritário para empresas brasileiras neste início de 2025, com captações que já atingiram US$ 10,4 bilhões nos dois primeiros meses do ano. O montante equivale a metade do total levantado em todo o ano passado e já supera o volume registrado no primeiro trimestre de 2024, quando foram emitidos US$ 10 bilhões. A expectativa do setor financeiro é que o ano feche com um volume de captações entre US$ 25 bilhões e US$ 30 bilhões, voltando aos patamares históricos.

A corrida para acessar o mercado internacional tem sido impulsionada por taxas atrativas e pela reabertura das condições de captação após a posse de Donald Trump, que inicialmente gerou cautela no setor financeiro, mas acabou resultando em um ambiente mais favorável do que o esperado. Além disso, a liquidez nos Estados Unidos e a redução dos spreads dos títulos corporativos americanos têm levado investidores a buscar oportunidades em mercados emergentes, como o Brasil.

De acordo com Gustavo Siqueira, do Morgan Stanley, o fluxo de investidores globais tem sido um fator determinante para o sucesso das operações. Já Samy Podlubny, do UBS BB, destaca que a instabilidade no mercado de debêntures locais em dezembro levou muitas empresas a considerar a captação externa como alternativa para garantir recursos de longo prazo.

O mês de fevereiro foi particularmente movimentado, com seis grandes operações no mercado de dívida internacional. A Embraer captou US$ 650 milhões com vencimento de dez anos e uma taxa de 5,98%, atraindo uma demanda de US$ 7 bilhões. Já o Tesouro Nacional, que inicialmente previa uma emissão de US$ 2 bilhões, elevou o volume para US$ 2,5 bilhões devido à forte procura, com um livro de ofertas que chegou a US$ 5,4 bilhões.

A Raízen também realizou uma emissão expressiva, captando US$ 1,75 bilhão em duas operações: a reabertura de um título de 30 anos e a emissão de um novo papel com prazo de 12 anos. No mesmo dia, o Itaú Unibanco retornou ao mercado de dívida externa após um longo período sem emissões, captando US$ 1 bilhão com vencimento de cinco anos. A forte demanda, que chegou a US$ 2,9 bilhões, permitiu aos bancos reduzir a taxa dos papéis.

Outras empresas também aproveitaram a boa janela de captação. A Vale, uma das emissoras frequentes no exterior, reabriu sua emissão mais longa, de 30 anos, levantando US$ 750 milhões com um livro de ordens que alcançou US$ 2,6 bilhões. Já o Bradesco, que havia emitido US$ 750 milhões em janeiro, ampliou sua captação em US$ 250 milhões no mês seguinte.

Segundo Pedro Frade, do Itaú BBA, o ambiente mais favorável ao Brasil no cenário externo tem contribuído para essa onda de emissões. Ele destaca que, com a redução da percepção de risco país e a desaceleração das expectativas inflacionárias nos Estados Unidos, as taxas caíram, criando oportunidades para as empresas brasileiras acessarem o mercado com custos mais competitivos. “O sentimento geral é de que o mercado está comprador, e todas as emissões realizadas neste ano foram bem-sucedidas”, afirma.

Embora o mercado internacional esteja aquecido, a renda fixa local deve manter sua relevância para as empresas brasileiras. Ainda que o mercado externo seja mais acessível para companhias com receitas em dólar, o ambiente doméstico segue atrativo, especialmente após anos de crescimento e amadurecimento. Um exemplo dessa dinâmica foi a Vale, que voltou a emitir debêntures no mercado local após nove anos sem recorrer a essa alternativa, mesmo em um momento em que o financiamento externo estava mais aquecido.

Com as perspectivas de novas captações entre março e maio, o mercado de dívida externa deve continuar movimentado, especialmente à medida que as empresas divulgam seus resultados financeiros do quarto trimestre. O cenário atual favorece tanto empresas que buscam alongar dívidas quanto aquelas que desejam reforçar seus caixas para novos investimentos, consolidando a tendência de um ano forte para emissões internacionais.

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