Views
O grupo Carrefour está avaliando, desde o final de 2024, a possibilidade de recomprar as ações da Península Participações no Brasil e, nesse contexto, também considera um plano de recompra de suas próprias ações e o consequente fechamento de capital. A decisão ainda depende da análise de um comitê independente, que está negociando os termos do acordo com o acionista controlador. Em fato relevante divulgado na terça-feira (11), o Carrefour apresentou as condições de troca das ações em circulação no mercado. Segundo fontes próximas ao tema, a discussão sobre o fechamento de capital está mais avançada na França, o que pode acelerar o processo.
O comunicado da empresa não detalhou os nomes dos três conselheiros independentes envolvidos na negociação, que foram designados pelo conselho de administração, conforme orientação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de 2008. Atualmente, o Carrefour conta com cinco diretores independentes: Arthur Sadoun, Claudia Almeida e Silva, Stéphane Courbit, Aurore Domont, Charles Edelstenne e Marie-Laure Sauty de Chalon.
Caso o fechamento de capital se concretize, gestores e ex-executivos do Carrefour acreditam que o grupo francês terá mais flexibilidade para explorar movimentos de fusão com outros grandes varejistas globais. Essa possibilidade já foi discutida anteriormente, especialmente após o Carrefour enfrentar desafios de crescimento em seu mercado doméstico na França. Segundo um ex-CEO da companhia no Brasil, o fechamento de capital também poderia facilitar uma eventual venda da operação brasileira, considerada um dos ativos mais valiosos do grupo em nível global. Embora essa ideia tenha sido cogitada antes da abertura de capital na B3, no início dos anos 2000, ela não avançou na época. Hoje, o cenário é diferente, mas a falta de interessados em ativos de mercados emergentes ainda representa um obstáculo.
Até o dia 10 de fevereiro, antes da recente valorização das ações, o Carrefour estava avaliado em cerca de 2,2 bilhões de euros. Na estrutura acionária da companhia na B3, os franceses detêm 67% do capital, enquanto a Península Participações possui 7,2%, distribuídos em diferentes veículos de investimento. Os 25% restantes estão em circulação no mercado. Em 2024, o Carrefour já havia realizado um plano de recompra de ações na Bolsa de Paris, movimentando aproximadamente 700 milhões de euros. Para a operação no Brasil, o fato relevante divulgado nesta terça-feira aponta que o controlador propõe um prêmio de 32,4% em relação ao preço médio ponderado por volume das ações no mês anterior até o dia 10 de fevereiro. Considerando o mesmo período e a taxa de câmbio da mesma data, o prêmio seria de 27,3% sobre a relação de troca.
Dois gestores consultados apontaram que um pagamento baseado em múltiplos poderia aumentar o nível de alavancagem da matriz francesa, que já enfrenta pressões relacionadas ao endividamento externo. As estimativas para 2025 e 2026 indicam que a relação entre dívida líquida e Ebitda do grupo pode superar 3,5 vezes, segundo análises de bancos internacionais. Até meados de 2024, não havia planos concretos para novas recompras de ações nos países onde o Carrefour atua, especialmente após o programa de recompra na França. No entanto, a possível saída da Península Participações do capital da empresa mudou esse cenário.
No final de janeiro, o Valor Econômico informou que a família Diniz estava avaliando o momento mais adequado para desinvestir no Carrefour, tanto no Brasil quanto na França, quase um ano após o falecimento de Abilio Diniz. A decisão envolve considerações estratégicas, incluindo o timing da operação e o valor das ações. Até o dia anterior ao anúncio, o Carrefour Brasil estava avaliado em cerca de R$ 13 bilhões. Durante a oferta pública de ações em 2017, cada papel foi vendido por R$ 15. Na segunda-feira (10), as ações fecharam cotadas a R$ 6,45. No entanto, após a divulgação das informações sobre a possível operação de recompra e fechamento de capital, os papéis registraram uma alta de 15%, refletindo o impacto da notícia no mercado.