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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o Brasil pode e deve buscar uma taxa de crescimento econômico semelhante à média mundial, após anos de avanço represado desde 2015. Durante um evento promovido pelo Itaú Unibanco, Haddad destacou que há um conjunto de projetos de investimentos represados, com altas taxas de retorno, além de um interesse internacional nas vantagens competitivas do Brasil, especialmente no setor energético.
"Não há motivo para não mirar uma taxa de crescimento no mínimo igual à média mundial. O Brasil pode, com uma agenda propositiva, atingir uma taxa de crescimento acima de 2,5% sem riscos significativos de desequilíbrios", garantiu.
Sustentabilidade do arcabouço fiscal e medidas de ajuste
O ministro também abordou as preocupações sobre a sustentabilidade do arcabouço fiscal, um tema que tem gerado incertezas no mercado. Haddad destacou a importância de ajustes institucionais, como a maior sensibilidade do Judiciário às consequências econômicas de suas decisões e a ampliação da abrangência da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) para o Legislativo. Além disso, mencionou a necessidade de integrar a dinâmica das emendas parlamentares ao arcabouço fiscal.
Haddad reconheceu que as dúvidas do mercado são justificáveis, mas garantiu que o governo está trabalhando para resolver essas questões. Ele destacou que, mesmo enfrentando crises como a seca prolongada e enchentes no Rio Grande do Sul, o Brasil ainda debate se a inflação terminará 2024 dentro da meta, o que sinaliza uma recuperação econômica resiliente.
Oportunidades com a transformação ecológica
O ministro também ressaltou o potencial de crescimento do Brasil com a implementação de um plano de transformação ecológica, especialmente em meio às mudanças climáticas. Para Haddad, a matriz energética do país oferece uma vantagem competitiva, mas o Brasil ainda está aproveitando pouco essas oportunidades.
"O plano de transformação ecológica, aliado às reformas em andamento, é uma cereja do bolo que pode impulsionar nosso PIB potencial", afirmou.
Elevação da nota de crédito e expectativas para 2025
Comentando sobre a elevação da nota de crédito do Brasil pela Moody's, Haddad afirmou que a melhora é coerente com a situação atual da economia e que o país está próximo de reunir as condições necessárias para crescer de forma sustentável. Ele enfatizou que a defesa do arcabouço fiscal é fundamental para alcançar o grau de investimento.
O ministro também indicou que o Brasil pode ter "boas surpresas" na estabilização da dívida pública até o final do ano. Haddad lembrou que, quando o atual governo assumiu, as expectativas eram pessimistas, mas acredita que uma trajetória mais positiva está se formando.
Reforma do Imposto de Renda e revisão de gastos
Quanto à proposta de reforma do Imposto de Renda, Haddad afirmou que ela pode não ser apresentada ainda este ano devido ao calendário apertado e à prioridade dada ao programa de revisão de gastos do Ministério do Planejamento e da Fazenda. O ministro reiterou que a reforma deverá ser neutra em termos de arrecadação e que a Receita Federal está conduzindo um levantamento detalhado sobre as deduções e a calibragem da taxação de dividendos.
Em meio a esse cenário, o vice-presidente Geraldo Alckmin, em entrevista ao Roda Viva, defendeu que, se necessário, o governo deve realizar cortes no orçamento, desde que sejam explicados de forma clara à população.
Crescimento econômico e ajuste fiscal em equilíbrio
Haddad reforçou que o governo busca conter os gastos primários e aumentar as receitas, equilibrando as contas públicas. Segundo o ministro, a meta é reduzir a despesa pública para abaixo de 19% do PIB e aumentar a receita, atualmente em 17%. Para ele, o crescimento econômico será essencial para alcançar esse equilíbrio.
"Temos espaço para conter o gasto primário e reduzir o gasto financeiro, mas isso só será possível com o crescimento econômico", concluiu Haddad.