Inflação acelera em novembro e pressiona Banco Central por alta da Selic
Inflação no Brasil acelera em novembro, atingindo 4,87% em 12 meses. Alta do dólar e pacote fiscal insuficiente pressionam Banco Central

A inflação no Brasil continua a gerar preocupações, conforme os dados divulgados nesta terça-feira (10) pelo IBGE. Apesar de o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ter desacelerado de 0,56% em outubro para 0,39% em novembro, a taxa acumulada em 12 meses subiu de 4,76% para 4,87%. Este valor está acima do teto da meta de 4,5% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e se afasta do objetivo central de 3%, indicando que o Banco Central (BC) terá de intervir novamente.

O aumento da inflação vem acompanhado de uma deterioração nas expectativas futuras. O Boletim Focus, divulgado na segunda-feira (9), mostrou revisões para cima nas projeções de inflação. A estimativa para 2025 subiu de 4,4% para 4,59%, enquanto as previsões para 2026 e 2027 também foram ajustadas, chegando a 3,59%. O cenário aponta para uma dificuldade crescente em controlar os preços, com impacto direto nas decisões do BC, que deve anunciar uma nova alta na taxa Selic na reunião do Copom que se encerra nesta quarta-feira (11).

A escalada do dólar, que já ultrapassou os R$ 6, tem desempenhado um papel importante no aumento da inflação. Luis Otávio Leal, economista do G5 Partners, destaca que a alta de 25% na moeda americana em 2024 adicionou cerca de 1 ponto percentual ao IPCA, considerando a regra de bolso que estima 0,4 ponto percentual de impacto para cada 10% de valorização do dólar. Este aumento reflete tanto o cenário externo, com a reeleição de Donald Trump nos EUA, quanto as incertezas fiscais no Brasil, onde o governo não conseguiu demonstrar compromisso com o controle da dívida pública.

Dois componentes da inflação geram particular preocupação: os serviços, com alta acumulada de 4,71% nos últimos 12 meses, e os alimentos e bebidas, que subiram 7,63% no mesmo período. O aumento no setor de serviços está ligado diretamente ao mercado de trabalho e sugere que uma desaceleração econômica pode ser necessária para controlar os preços, mas isso implicaria uma piora nos índices de emprego. Já a alta nos alimentos, como a disparada de 15,43% nas carnes, impacta diretamente o orçamento das famílias e pode aumentar a insatisfação popular.

A inflação acima do teto da meta já é realidade em 10 das 16 capitais pesquisadas pelo IBGE, incluindo Belo Horizonte (6,54%), São Luís (6,22%) e Rio Branco (5,3%). O aumento de preços está espalhado por todo o país, evidenciando um problema generalizado.

A frustração com o pacote fiscal apresentado pelo governo no final de novembro contribuiu para a alta do dólar e reforçou as dúvidas sobre a capacidade de o governo controlar a inflação. Sem ações efetivas para restaurar a confiança, a tarefa de trazer os preços para a meta recairá exclusivamente sobre o Banco Central, que pode ser forçado a implementar um choque de juros.

redacao
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