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O Brasil pode enfrentar uma recessão no segundo semestre de 2025, segundo alerta do JP Morgan divulgado nesta segunda-feira (14). A projeção decorre da intensificação da guerra comercial global, provocada pelas novas tarifas impostas pelos Estados Unidos sob a gestão de Donald Trump, que já afetam o cenário macroeconômico internacional. “No curto prazo, as expectativas de uma recessão nos EUA e no mundo arrastarão o Brasil”, afirma o banco em relatório.
Diante desse cenário mais adverso, a instituição revisou para baixo suas previsões de crescimento para o país. A projeção do PIB brasileiro caiu de 2,2% para 1,9% em 2025, e de 1,5% para 1,2% em 2026. O cenário externo, mais turbulento do que o inicialmente previsto, compromete as expectativas de um “pouso suave” da economia nacional. A probabilidade de uma recessão global é estimada em 60%, e a queda nos preços das commodities tende a enfraquecer uma das principais fontes de crescimento do Brasil.
Embora o país não esteja entre os mais diretamente afetados pelas novas tarifas americanas, o impacto indireto é expressivo. O banco estima que a tarifa de 10% possa impactar diretamente 0,3% do PIB brasileiro, refletindo a modesta exposição ao comércio exterior. Ainda assim, setores como o agronegócio podem ser beneficiados por um redirecionamento comercial, especialmente vindo da China. No entanto, os efeitos positivos desse movimento tendem a aparecer com atraso.
Além dos choques externos, o JP Morgan também aponta fragilidades internas que contribuem para o risco de retração. Empresas nacionais enfrentam alta nos custos de mão de obra, juros e impostos, sem margem para repassar os aumentos aos consumidores. Esse estrangulamento já prenunciava uma desaceleração econômica, que agora pode evoluir para uma recessão moderada diante do agravamento global.
Na política monetária, o banco projeta mudanças importantes. A expectativa é que o Banco Central interrompa o ciclo de aperto mais cedo do que o planejado. A nova previsão é de uma alta de 0,5 ponto percentual na Selic na próxima reunião — para 14,75% — seguida por uma pausa. Antes, o banco projetava uma taxa terminal de 15,25% ainda no primeiro semestre. Caso a inflação siga em trajetória de queda, a Selic pode ser gradualmente reduzida até atingir 9,75% ao fim de 2026.
No campo fiscal, o JP Morgan prevê uma resposta limitada do governo, mas não descarta a adoção de medidas de estímulo típicas de anos eleitorais. Entre as possibilidades, estão aumento de gastos tributários, renegociação de dívidas estaduais e estímulo ao crédito consignado. Nesse contexto, a projeção para o déficit primário subiu para -0,8% do PIB em 2025 e para -1,1% em 2026.
Já nas contas externas, a deterioração também preocupa. A previsão é de aumento do déficit em conta corrente neste ano, impulsionado pela queda nas receitas de exportação de commodities. A expectativa, porém, é de alguma recuperação em 2026, sustentada por uma retomada da demanda por produtos agrícolas brasileiros.
Combinando pressões externas e limitações internas, o Brasil entra no segundo semestre sob o risco crescente de retração, exigindo respostas coordenadas para manter a estabilidade fiscal e evitar uma crise mais profunda.