Lula resiste a proposta de revisão de gastos preocupado com impactos políticos
O principal fator que pesa na decisão de Lula é o impacto político que mudanças nas regras de concessão de benefícios sociais

Apesar da sinalização do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a necessidade de uma agenda de revisão de gastos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não está convencido da adoção dessas medidas, conforme afirmaram fontes da equipe econômica e da ala política à Exame. O principal fator que pesa na decisão de Lula é o impacto político que mudanças nas regras de concessão de benefícios sociais, previdenciários e trabalhistas poderiam ter sobre sua popularidade, especialmente no Norte e Nordeste, regiões onde concentra grande parte de seu eleitorado.

Essas áreas abrigam muitos dos beneficiários dos programas sociais e de amparo ao trabalhador, como o abono salarial, o seguro-desemprego e o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que estão entre as despesas mais significativas do orçamento público. A equipe econômica, liderada por Haddad, considera ajustes nesses programas e até o fim da indexação dos benefícios previdenciários e trabalhistas ao salário mínimo. No entanto, tais mudanças enfrentam forte resistência na ala política do governo.

Riscos políticos e resistências à revisão de gastos

Para Lula, reduzir despesas sociais seria um "suicídio político", segundo um integrante da ala política. Ele teme que qualquer revisão dos benefícios sociais, principalmente em áreas de grande dependência dos programas do governo, possa comprometer seus planos de reeleição em 2026. Além disso, a proposta de Haddad enfrenta resistência entre parlamentares petistas e de esquerda, incluindo a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que já expressou críticas às mudanças defendidas pela equipe econômica.

Mesmo entre parlamentares de outros partidos com base política no Norte e Nordeste, há relutância em apoiar um pacote que envolva a revisão dos benefícios sociais. Para esse grupo, focar em reduzir benefícios fiscais concedidos às empresas, tributar lucros e dividendos, e revisar a desoneração da folha seria uma estratégia mais viável para aliviar a pressão sobre o orçamento público, sem afetar diretamente os programas sociais.

Planos para as eleições de 2026 e sinalização ao mercado

Há também a interpretação entre alguns assessores de Lula de que a postura de Haddad em relação à revisão de gastos seria uma forma de se posicionar para o mercado, mostrando-se mais alinhado com a disciplina fiscal em comparação a outros membros do governo. Isso poderia abrir caminho para que Haddad se torne um candidato viável à presidência em 2026, caso Lula decida não disputar a reeleição.

No entanto, a possibilidade de Lula não concorrer em 2026 ainda é amplamente descartada por seus auxiliares. O presidente tem demonstrado insatisfação com os resultados do governo até agora, especialmente com o desempenho dos ex-governadores que lideram ministérios estratégicos, cuja experiência nos estados deveria, em teoria, facilitar a gestão das políticas públicas.

Além disso, o resultado das eleições municipais, que favoreceu partidos de centro e direita, como o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, gerou preocupações no PT sobre o futuro político de Lula. A ascensão desses partidos pode dificultar tanto sua reeleição quanto a governabilidade em um possível segundo mandato, aumentando a influência dessas agremiações no Congresso.

A decisão de Lula de não se envolver ativamente nas campanhas municipais também gerou um mal-estar entre candidatos, presidentes de partidos aliados e até dentro do próprio PT, complicando ainda mais o cenário político para 2026.

(Com informações da Exame)

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