Banco Central foi alertado sobre operações de risco do Master antes de venda ao BRB
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Banco, que teve uma parcela comprada pelo BRB, passou a oferecer produtos financeiros mais arriscados

O Banco Central (BC) já havia sido alertado sobre o comportamento fora do padrão adotado pelo banco Master antes da recente venda parcial da instituição ao BRB, anunciada nesta sexta-feira (28). De acordo com fontes do mercado financeiro ouvidas pelo Estadão sob condição de anonimato, as práticas agressivas do banco — especialmente no uso do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) como atrativo para captação de recursos — vinham chamando a atenção desde a gestão de Roberto Campos Neto.

Líder na emissão de CDBs com a chancela do FGC, o Master acumulou mais de R$ 45 bilhões em depósitos a prazo, número mais de oito vezes maior que o registrado em junho de 2021, quando a instituição ainda se chamava banco Máxima. A estratégia levantou preocupações entre reguladores e concorrentes, principalmente pelo risco de exposição excessiva dos investidores a produtos de alto risco, com aparente proteção garantida pelo FGC.

Diante do cenário, o Banco Central adotou pelo menos duas medidas para frear a prática. Em 2021, passou a exigir contribuição adicional ao FGC por parte de instituições altamente dependentes dessa captação. Em 2024, entrou em vigor uma norma voltada especificamente para moderar emissões de CDBs e outros produtos com lastro na propaganda do fundo.

Mesmo com os ajustes, especialistas consideram que as regras permaneceram permissivas durante a gestão Campos Neto. A avaliação no mercado é de que a venda do Master ao banco público BRB pode ter sido uma espécie de socorro institucional, ainda que o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, tenha negado interferência política e afirmado que a aquisição se deu com base em critérios técnicos e estratégicos.

Nos bastidores do PT, integrantes da cúpula do partido veem a operação como uma herança empurrada para Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária do BC e cotado para a presidência da autarquia. Já Campos Neto, que deixou o cargo recentemente, declarou estar em período de restrição e não comentou o assunto. O Banco Central também não se pronunciou oficialmente.

Uso do FGC como escudo de marketing

O FGC é um mecanismo de proteção a depositantes, cobrindo até R$ 250 mil por CPF em aplicações como conta corrente, poupança e CDBs. Porém, plataformas de investimentos passaram a usar o fundo como argumento publicitário para vender produtos de maior risco, principalmente de bancos médios e pequenos, que ofereciam rendimentos de até 140% do CDI — bem acima dos grandes bancos, que geralmente pagam no máximo 100%.

Com a popularização dessas aplicações, a participação dos bancos menores no total de investimentos garantidos pelo FGC saltou de 16,7% em 2019 para 24% atualmente. Nos bancos de menor porte, 83% das aplicações cobertas pelo fundo são CDBs ou RDBs, enquanto nos maiores esse percentual gira em torno de 50%.

Tentativa de ampliar cobertura do FGC foi rejeitada

O movimento de bancos médios por mais espaço no mercado ganhou um capítulo político em agosto do ano passado. O senador Ciro Nogueira (PP-PI) propôs, por meio de uma emenda à proposta de autonomia do Banco Central, o aumento do limite de cobertura do FGC de R$ 250 mil para R$ 1 milhão por CPF. A justificativa era estimular a competitividade no setor bancário.

A proposta foi duramente criticada por entidades como Febraban, ABBC e Acrefi, que alertaram para o risco moral e o incentivo à alavancagem excessiva das instituições mais frágeis. Além disso, o então presidente do BC, Roberto Campos Neto, teria expressado desconforto com a medida, que acabou rejeitada.

Master e os riscos sistêmicos

Em entrevista à revista piauí, Daniel Vorcaro, dono e presidente do banco Master, defendeu que o país deveria criar salvaguardas estatais para lidar com crises sistêmicas, além da proteção do FGC. Segundo ele, o sistema financeiro é fundamental para a economia e, em caso de colapso generalizado, o governo precisaria intervir.

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