Mercado avalia os efeitos do processo de fechamento de capital do Carrefour no Brasil
Os acionistas minoritários têm a opção de vender suas ações por R$ 7,70 cada, com um prêmio de 32,4%, ou converter os papéis em ações da matriz francesa

O mercado começou a calcular os impactos do fechamento de capital do Carrefour no Brasil e seus possíveis reflexos na França. Os acionistas minoritários têm a opção de vender suas ações por R$ 7,70 cada, com um prêmio de 32,4%, ou converter os papéis em ações da matriz francesa, recebendo um valor menor. Para financiar a aquisição dos 25,2% das ações em circulação na B3, a varejista pode desembolsar até R$ 4,1 bilhões, o equivalente a cerca de € 685 milhões, o que pode exigir captação de dívida, segundo analistas.

A Península Participações, que detém 7,3% das ações, já declarou que não venderá sua participação, optando pela conversão em ações do Carrefour na França. A empresa anunciou que a assembleia geral extraordinária para deliberar sobre a oferta pública de aquisição será convocada até o início de março. Os acionistas que votarem contra a deslistagem terão direito de retirada, recebendo R$ 7,42 por ação, 3,6% abaixo dos R$ 7,70 oferecidos.

Relatórios de bancos indicam que há forte tendência de apoio dos investidores à venda das ações por R$ 7,70, em vez da conversão para a rede francesa. Segundo o Bradesco BBI, é improvável que minoritários pressionem por um valor maior. O J.P. Morgan também vê pouca chance de um movimento para alterar os termos, pois não há acionistas ativistas na base.

Atualmente, 25% do capital do Carrefour Brasil está diluído na B3, com investidores institucionais e pessoas físicas. Para a deslistagem avançar, é necessário que dois terços dessas ações em circulação aprovem a proposta, o que significa que a Península, com 22% do free float, já garante parte do caminho, faltando mais 44% para completar a aprovação.

Nos bastidores, especula-se que o fechamento de capital pode ser parte de uma estratégia mais ampla do grupo francês para melhorar a percepção do mercado sobre seu desempenho global. O Carrefour declarou que a decisão se baseia no potencial do negócio no Brasil e na busca por maior agilidade operacional, mas analistas apontam que o objetivo pode ser destravar o valor das ações na França. Desde que Alexandre Bompard assumiu como CEO global, em 2017, a ação da companhia caiu de um patamar entre €18 e €20 para €13,61 atualmente, levando a gestões para melhorar a valorização.

Os acionistas brasileiros precisam decidir entre três opções: trocar suas ações por papéis do Carrefour na França (11 ONs do Brasil para uma ação da matriz), vender por R$ 7,70 cada, ou optar por um modelo híbrido, recebendo R$ 3,85 por ação e uma ação francesa para cada 22 ONs do Carrefour Brasil. Também há a possibilidade de receber BDRs no Brasil.

Outro fator importante é a posição da Península Participações, que já vinha estudando a saída do Carrefour tanto no Brasil quanto na França. O mercado avalia se os franceses optaram pelo fechamento de capital para evitar um impacto excessivo na liquidez das ações na Euronext, caso a Península decidisse se desfazer de sua fatia.

A deslistagem também pode facilitar uma eventual saída da Península no futuro. Segundo cálculos do Valor, os 7,3% da empresa no Brasil se transformariam em quase 14 milhões de ações na França, elevando sua participação de 8,06% para 10%. O J.P. Morgan acredita que a operação será financiada por dívida em euro, com juros em torno de 4% ao ano. O Jefferies ainda aguarda esclarecimentos sobre o modelo de financiamento escolhido.

Em junho de 2024, o Carrefour francês tinha €4,7 bilhões em caixa, mas sua dívida líquida dobrou em relação ao final de 2023, chegando a €5,4 bilhões. Com essa nova movimentação, a companhia busca reorganizar sua estrutura de capital e melhorar a valorização de suas ações no longo prazo.

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