Queda nos preços do minério de ferro afeta exportadoras

O cenário econômico global enfrenta turbulências devido à queda nos preços do minério de ferro, ampliando as incertezas em torno da estabilidade da economia chinesa. Este declínio impacta diretamente as ações das exportadoras de commodities metálicas em todo o mundo. Entre elas, a Vale, gigante do setor e principal componente do Ibovespa, enfrenta não apenas a pressão dos preços do minério, mas a especulação em torno da sucessão na presidência da empresa.

No decorrer do último pregão, enquanto o índice de referência cedia 5,43% em 2024, atingindo 126.926 pontos, as ações da Vale registravam uma queda significativa de 19,49%. Segundo análises do Valor Data, esse declínio contribuiu em aproximadamente 57% para a redução do índice no ano. No mercado nacional, a CSN Mineração ON apresentou uma retração ainda mais pronunciada, alcançando 29,02%. Enquanto isso, no mercado internacional, gigantes como BHP e Rio Tinto registraram quedas de 19,37% e 17,31%, respectivamente, em Londres.

Gilberto Cardoso, presidente da Tarraco Commodities Solutions, comenta sobre as tentativas dos analistas de resgatar o otimismo no início do ano, antecipando estímulos que poderiam impulsionar os setores ligados a matérias-primas. Contudo, a realidade de 2024 mostra um viés mais voltado para o consumo interno, especialmente na China.

"A população chinesa viu uma redução significativa em sua renda durante a pandemia, o que diminuiu sua propensão para investimentos. Cerca de metade da poupança estava destinada a imóveis, porém, a falta de confiança e recursos limita a retomada desses investimentos arriscados neste momento. Mesmo entre aqueles com recursos, há uma ponderação entre adquirir mais imóveis ou diversificar seus investimentos", explica Cardoso.

Essa realidade reflete diretamente na demanda por construção civil na China, que permanece em níveis baixos. Além disso, o setor manufatureiro, que no ano anterior ajudou a sustentar os preços do minério, agora está em fase de desaceleração. "Mesmo com a oferta de minério, que geralmente é afetada nos primeiros meses do ano por questões meteorológicas no Brasil e na Austrália, permaneceu estável este ano. Isso resulta em um aumento nos estoques e uma pressão para baixo nos preços", acrescenta.

Como resultado, o contrato para maio do minério de ferro registrou uma queda de 3,46%, atingindo cerca de US$ 108 em Dalian, China, na última sexta-feira. Essa queda representa uma retração de 11% na semana e marca o menor patamar desde agosto de 2023. Na Bolsa de Cingapura, a commodity chegou a oscilar abaixo dos US$ 100, atingindo seu menor valor desde junho, com uma queda semanal acumulada de 14%.

Cardoso projeta que, sem novos estímulos do governo chinês, os preços do minério podem se manter na faixa entre US$ 100 e US$ 110. No entanto, para alcançar a meta de crescimento de cerca de 5% no ano, medidas adicionais serão necessárias. Ele sugere que, dado o enfraquecimento do setor de construção, o governo chinês poderá concentrar seus esforços na infraestrutura, buscando uma eletrificação da economia.

"Os futuros do minério têm experimentado alta volatilidade, o que tem pressionado as ações do setor. Se os preços caírem abaixo dos US$ 100, podemos esperar uma nova rodada de desvalorização das ações, pois a maioria dos bancos estabeleceu os preços da commodity entre US$ 100 e US$ 110 em seus modelos. Se os preços caírem abaixo de US$ 90 ou US$ 80, isso começará a afetar os custos das operações de menor produtividade", conclui Cardoso.

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