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A demissão de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras gerou preocupações entre os investidores, que interpretaram o movimento como um possível sinal de interferência mais ampla do governo federal na estatal. Esse cenário teve um impacto negativo nos ativos locais durante a sessão de ontem, enquanto os mercados globais exibiram algum alívio após a divulgação de dados de inflação mais moderados nos Estados Unidos.
No mercado acionário brasileiro, o Ibovespa registrou uma queda de 0,38%, fechando aos 128.027 pontos, com as ações ordinárias e preferenciais da Petrobras recuando 6,78% e 6,04%, respectivamente. Essa desvalorização resultou em uma perda de R$ 35,5 bilhões em valor de mercado para a empresa, de acordo com dados do Valor Data. Se excluirmos as ações da estatal, o Ibovespa teria apresentado um aumento de 0,55% no pregão. Além disso, o dólar e o euro avançaram 0,12% e 0,67%, respectivamente, em relação ao real, reflexo do aumento do prêmio de risco no mercado cambial brasileiro e de uma possível saída de investidores estrangeiros das ações da Petrobras. O risco Brasil, medido pelo spread dos contratos de CDS de cinco anos, também subiu 2,95%, de 143 para 147 pontos, indo na contramão de outros países emergentes.
A mudança na presidência da Petrobras não foi bem recebida pelo mercado, que já vinha observando ruídos em torno da companhia nos últimos meses. As saídas de Prates e Sergio Caetano Leite, diretor financeiro (CFO), aumentaram as incertezas sobre o futuro da empresa, tanto em relação aos novos nomes que serão indicados por Magda Chambriard, nova presidente, quanto às expectativas do governo sobre a operação da Petrobras.
Apesar das turbulências de curto prazo, alguns analistas acreditam que a governança da empresa melhorou nos últimos anos e que a troca de comando não deve resultar em mudanças drásticas. A gestora AZ Quest, por exemplo, vê a queda das ações da Petrobras como uma oportunidade de compra, destacando o plano estratégico sólido e a política de preços bem estabelecida como pilares importantes para o futuro da empresa.
Por outro lado, a percepção de piora no cenário político local foi mitigada por dados de inflação nos EUA abaixo das expectativas e por comentários de executivos do Banco Central brasileiro durante o Summit Valor Brazil-USA, em Nova York. O diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo, reiterou o compromisso com a meta de inflação e indicou uma postura alinhada à parte do comitê que defende um corte de juros mais moderado.