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A área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou a realização de uma auditoria no Banco Central para apurar possível omissão na fiscalização da emissão de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e seus impactos sobre o Fundo Garantidor de Créditos (FGC). A medida tem como foco o Banco Master, que tem sido alvo de atenção no mercado financeiro devido a práticas agressivas de captação por meio desses papéis.
A sugestão foi apresentada no âmbito de um processo sob relatoria do ministro Jhonatan de Jesus, a partir de representação dos deputados federais Caroline de Toni (PL-SC) e Carlos Jordy (PL-RJ). Eles pediram ao TCU que investigasse a legalidade da venda do Master ao BRB (Banco de Brasília), instituição financeira estatal do Distrito Federal. Embora a área técnica tenha entendido que não cabe ao tribunal avaliar diretamente a negociação, ela recomendou a auditoria sobre a conduta do Banco Central frente ao modelo de atuação do Master.
Segundo o parecer da Secretaria de Controle Externo de Contas Públicas do TCU, a fiscalização deverá “avaliar os riscos relacionados ao crescimento do volume de operações de depósito a prazo, com foco em Certificados de Depósito Bancário, e os possíveis impactos no Fundo Garantidor de Créditos e demais instrumentos utilizados para garantir a estabilidade do Sistema Financeiro Nacional”.
O alerta surgiu após reportagem do Estadão revelar que lucros atípicos do Banco Master contribuíram para turbinar os resultados da instituição em 2024. O banco se destacou no mercado por oferecer CDBs a pessoas físicas com rentabilidades que chegavam a 140% do CDI — uma captação considerada cara e bem acima da média do mercado, mas com garantia do FGC, que cobre até R$ 250 mil por CPF e por instituição.
O modelo, embora atrativo para investidores, levanta preocupações. Caso o Master não consiga honrar os compromissos assumidos, o FGC poderá ser acionado para cobrir eventuais prejuízos — o que exigiria aportes dos próprios bancos privados. Fontes do setor bancário e executivos das instituições envolvidas reconhecem que o modelo está esgotado. Ainda assim, o Banco Master precisa enfrentar um passivo de R$ 7,6 bilhões a ser quitado até o fim do primeiro semestre de 2025, o que mantém as tensões no radar do sistema financeiro.
A operação de compra do Banco Master pelo BRB, que ainda depende da aprovação do Banco Central, também segue cercada de questionamentos, enquanto a instituição negocia outros ativos com bancos privados.