Como o aumento da dívida pública no Brasil impacta os investimentos?
Cenário fiscal brasileiro gera preocupações entre investidores

Por Letícia Bogéa/Analista de Economia do Boletim Nacional

O aumento da dívida pública no Brasil impacta diretamente os investimentos, afetando tanto o mercado interno quanto a confiança dos investidores estrangeiros. À medida que a dívida cresce, a percepção de risco sobre a capacidade do governo de honrar seus compromissos financeiros aumenta, gerando efeitos no ambiente econômico.
 
Um dos principais efeitos é a elevação das taxas de juros dos títulos públicos, como os do Tesouro Direto. Para financiar suas despesas, o governo precisa se endividar mais, o que o leva a oferecer juros mais altos para atrair compradores. Isso resulta em um custo de financiamento maior para o país. Embora as taxas mais altas possam parecer atrativas para os investidores, elas  refletem uma deterioração das contas públicas, podendo gerar instabilidade econômica no futuro.
 
Na última semana, O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que a dívida pública do Brasil pode aumentar mais de 10 pontos percentuais durante o governo Lula, e mostrou ceticismo em relação às medidas fiscais do governo.
 
O aumento da dívida pode pressionar a inflação, já que o governo pode usar recursos para cobrir déficits e aumentar o consumo público. Essa pressão inflacionária obriga o Banco Central a elevar a taxa básica de juros (Selic) para controlar os preços, encarecendo o crédito e desacelerando o crescimento econômico.
 
E é isso que vem acontecendo com o Brasil: taxa Selic aumentando, na contramão dos EUA, que os juros estão caindo. Sem um “choque” na política fiscal, o Banco Central é obrigado a aumentar os juros, na tentativa de conter a inflação. Um "choque fiscal" poderia mudar esse cenário. Enquanto o governo brasileiro não der um passo nessa direção, os juros continuarão aumentando, o que atinge diretamente os brasileiros.
 
Com isso, o aumento da dívida pública cria um ambiente incerto para os investidores. Embora possam se beneficiar de rendimentos mais altos nos títulos, também enfrentam riscos elevados, inflação alta e um possível desaquecimento da economia.
 
Agora é aguardar os próximos passos do governo brasileiro, e, também, a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC (dias 5 e 6 de novembro) para saber os rumos que a Selic tomará. Hoje a Selic está em 10,75% ao ano, valor fixado em 18 de setembro de 2024. A tendência, segundo analistas, é que haja um aumento de 0,5 ponto percentual.
 
Impactos na economia real e perspectivas
 
A situação fiscal delicada afeta diretamente a economia: a desvalorização do real pode pressionar a inflação, enquanto a elevação nas projeções de juros desestimula o investimento de longo prazo. A alta dos juros direciona os recursos para a renda fixa, enquanto a fragilidade da bolsa reduz a capacidade de captação de empresas por meio de ações.
 
Após as eleições municipais, está previsto o anúncio de um pacote de revisão de gastos, que, segundo o governo, pode gerar uma correção positiva nos preços dos ativos.
Por enquanto, o mercado permanece cauteloso e prefere aguardar medidas concretas para avaliar se o governo conseguirá, de fato, melhorar o cenário fiscal e estabilizar a trajetória da dívida pública. 
 

 

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