Estimativa é que, com melhora de condições lá fora, até oito operações sejam lançadas durante ‘janela’ até início de fevereiro

Com a melhora das condições para captação de recursos no exterior, decorrentes da expectativa de fim do ciclo de alta de juros nos Estados Unidos e alívio das taxas longas por lá, grandes empresas brasileiras planejam realizar emissões de dívida internacional em 2024.

Bancos de investimento ouvidos pelo Valor estimam que até oito operações podem ser anunciadas na primeira “janela” do ano, que se encerra no início de fevereiro.

“Há muito interesse por parte das companhias, com muitas delas acompanhando o mercado de perto e se preparando para potenciais ofertas”, diz Samy Podlubny, chefe da área de dívida do UBS BB.

A concretização de operações vai depender das condições de preço e da redução da volatilidade no mercado americano. Também vai pesar na decisão o resultado das primeiras ofertas do ano. Se for comprovado o apetite dos estrangeiros por títulos de empresas brasileiras, é provável que mais companhias se sintam encorajadas a tirar os planos do papel.

As emissões da América Latina feitas na semana passada encontraram demanda. A primeira delas foi do México, que emitiu um bônus soberano de US$ 7,5 bilhões, com a demanda superando os US$ 20 bilhões.

Ofertas do Brasil podem ser anunciadas ainda nesta semana. Não está descartada, por enquanto, a possibilidade de o Tesouro Nacional puxar a fila, assim como ocorreu em outros anos. É possível, porém, que o órgão decida acessar o mercado um pouco mais para frente, já que em novembro emitiu US$ 2 bilhões em “green bonds”, títulos atrelados ao cumprimento de metas de sustentabilidade.

Na lista de potenciais emissores aparecem nomes que costumam acessar o mercado externo, mas também empresas que nos últimos anos não precisaram emitir bônus e conseguiram suprir suas necessidades de crédito no mercado interno de dívida.

“Desde o fim de 2023, vimos alguns emissores de Brasil, principalmente aqueles com crédito bom e que não precisavam se aventurar em mercados com custo muito alto, voltando um pouco a atenção para o mercado internacional e ‘tirando o pó’ dos ‘pitchs’ [apresentações a investidores]”, diz Miguel Diaz, responsável por captações externas do Santander Brasil.

Semanalmente, a equipe de Diaz envia a um grupo formado por cerca de 200 empresas informações sobre a situação lá fora para emissões. “Em dezembro, umas 15 retornaram o e-mail demonstrando interesse”, conta. Nas próximas semanas, parte das interessadas deve ir ao exterior para os chamados “non-deal roadshows”, reuniões em que discutem com potenciais investidores sem o compromisso de concretizar a venda dos papéis. Se, ao final, perceberem que as condições são interessantes, podem fechar a operação.

Janeiro é um período que costuma ser movimentado no mercado de bônus. Em dezembro, há pouca atividade de emissão primária e investidores e emissores costumam se preparar para um reencontro na abertura do ano, explica Diaz. O investidor que recebe caixa precisa sair à procura de alternativas de investimentos. Já do lado dos emissores, é o momento de equacionar as necessidades de financiamento dos orçamentos dos próximos meses. Essa primeira janela dura até o início de fevereiro, quando as companhias entram em período de silêncio antes de divulgar os resultados financeiros.

Nos últimos dois anos, as primeiras semanas do ano foram fracas em termos de operações de companhias brasileiras. Em 2023, por exemplo, foi realizada uma única oferta no período, de US$ 1 bilhão, da Braskem. “Há uma expectativa que neste ano a janela de janeiro volte a ser a mais ativa para negócios”, diz Podlubny, do UBS BB.

O otimismo dos bancos é explicado, entre outros fatores, pela melhora das condições de mercado em dezembro. Ao longo do último mês, o “yield” (taxa de retorno) dos bônus brasileiros caiu 0,7 ponto percentual no mercado secundário, o que indica uma redução no custo para as companhias fazerem novas emissões, segundo Diaz. “Essa melhora veio a reboque da redução das taxas de longo prazo nos Estados Unidos dessa mesma magnitude”, afirma.

A elevação da nota de crédito do Brasil pela S&P de BB- para BB, anunciada no fim de dezembro, também ajudou a melhorar o cenário para as companhias brasileiras. “Todos os emissores que tinham o teto do rating soberano para suas notas também receberam esse upgrade”, explica Diaz.

Podlubny espera que 2024 seja positivo no mercado de bonds. “É um ano com expectativas econômicas relativamente positivas lá fora e expectativas relativamente equilibradas aqui dentro. É um ano para alcançar o volume histórico de emissões do país, que ultrapassa os US$ 20 bilhões.

Diaz também espera que o volume deste ano alcance US$ 20 bilhões. Ambos consideram na conta, além de operações corporativas, as emissões de dívida soberana.

Em 2023, o volume captado por companhias brasileiras no exterior se aproximou dos US$ 12 bilhões, superando com folga o de 2022, quando as empresas começaram a sentir o início do aperto monetário nos EUA e na Europa. Segundo a Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), foram movimentados, no total, US$ 5,5 bilhões com essas operações em 2022.

Laszlo Lueska, sócio da gestora Octante, voltada para investimentos em bônus da região, também espera um ano aquecido para títulos de países latinos. “Estamos em um momento em que todos estão precificando cortes nos juros dos Estados Unidos e em que a América Latina é vista como uma boa opção para investidores, considerando os níveis de spreads”, afirma.

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