Mulher mais rica do mundo prepara sucessão
Jean-Victor e Nicolas Meyers acompanham Françoise Bettencourt-Meyers no conselho da L'Oréal

A morte em 2017 de Liliane Bettencourt, dona da L'Oréal e mulher mais rica do mundo à época, marcou o fim de uma vida de luxo, mas também de escândalos judiciais e tormentos familiares. Seus últimos anos foram marcados por dramas que a colocaram contra a única filha, Françoise Bettencourt-Meyers, sob os holofotes da mídia, onde sempre odiou estar. Depois da batalha judicial que a opôs à mãe, Françoise agora se concentra em como será o caminho dos seus dois herdeiros, Jean-Victor e Nicolas Meyers, à frente da indústria de cosméticos.

No dia 6 de dezembro de 2010, Liliane e Françoise se reuniram para encerrar uma batalha judicial que se arrastava havia três anos. Liliane assinou um documento em que reconhecia uma "ordem de proteção futura".

O instrumento a impedia, a partir de então, de dispor de seus bens como entendesse. Em troca, ela conseguiu que François-Marie Banier — um fotógrafo gay por quem se apaixonara e para quem chegou a doar 1 bilhão de euros — fosse autorizado a ficar com os generosos repasses.

Na ocasião, Jean-Pierre Meyers, marido de Françoise e detestado genro de Liliane, foi nomeado CEO da Téthys, a holding familiar, e da Clymène, encarregada de gerir os bilhões gerados pela gigante dos cosméticos. A transmissão de poder foi descrita, linha por linha, por um advogado de renome, Pascal Wilhelm, num clima de desconfiança total e recíproca.

Françoise Bettencourt Meyers e os filhos, Jean-Victor e Nicolas Meyers

14 anos depois, 16 pessoas sentam-se hoje à mesa do conselho da L'Oréal. Mas apenas um trio concentra todos os olhares: Françoise e seus dois filhos. Desde o escândalo com a mãe, a atual mulher mais rica do planeta buscou "se esconder" da vida pública.

Muitas vezes vestida com uma calça tailleur preta, um grande sorriso costuma iluminar aquela beleza austera, totalmente afastada da estética publicitária das musas da empresa da qual é a principal acionista.

— Françoise sempre quis viver como todo mundo, com a preocupação de não esmagar os outros — confessou certa vez seu amigo de infância, o escritor Dominique Bona.

Ao não levar o nome da mãe, seus dois filhos escaparam do peso que ela carrega nas costas. O mais velho, Jean-Victor Meyers, de 38 anos, anda pelo mundo com seus 1,95 metro de elegância. Ele é simpático e educado. É uma pessoa que você pode conhecer sem necessariamente identificar em desfiles de moda ou noites chiques onde os meios de publicidade, cultura e luxo se misturam.

O seu breve currículo menciona uma licenciatura em Economia na Universidade de Nanterre, nos arredores de Paris, complementada com um diploma do Instituto Superior de Gestão e cursos de negócios e finanças em geral, oferecidos por duas caríssimas universidades americanas.

Há cerca de dez anos, este apaixonado pela arte e design contemporâneo, com um amigo, lançou a sua marca de vestimentas de caxemira e couro, denominada Exemplaire. Jean-Victor agora se interessa por perfumes.

Membro do conselho de administração da L’Oréal desde 2012, na cadeira ocupada pela avó, criou também a Constantine Capital. A sociedade de investimentos de 30,1 milhões de euros aplicou recursos essencialmente na Exemplaire, segundo o jornal Le Monde.

Nicolas, seu irmão mais novo, é sério e moreno, como sua mãe, com quem muito se parece. Preside também uma pequena empresa, a Lille Capital, “especializada no setor de atividade holding”, segundo o registro comercial, que cita um organograma de “entre um e dois trabalhadores”. Seus amigos dizem que ele se interessa por relógios, arte e números.

Dos dois irmãos, Nicolas parece ser quem mais viaja para visitar as boutiques e departamentos da L'Oréal no mundo. Em todo caso, assim como seu irmão mais velho, sua vocação não parece ser a de empresário. Durante a infância, as visitas aos pontos de venda sempre foram parte obrigatória das viagens ao exterior, mas os dois herdeiros foram educados livremente, sem pressão de estudo ou orientação profissional.

— Não se pode acordar todos os dias com a palavra ‘dinheiro’ na boca, e educamos os nossos filhos protegendo-os desse tipo de deriva — assegurou Françoise, em 2012, ao jornal Le Monde.

Porém, é muito difícil esquecer uma fortuna imensa como a que possuem e tudo o que ela permite. Segundo inúmeras fontes, Jean-Victor comprou há dois anos um duplex de 800 metros quadrados no Quai d'Orsay, em Paris, decorado pelo famoso arquiteto Alberto Pinto. Sua “segunda casa” é a cidade de Los Angeles, onde ocupa "mansões dos sonhos".

Tal como no tempo de Liliane Bettencourt, nunca foi Françoise ou um dos seus filhos que dirigiram o grupo de cosméticos. Quando Eugène Schuller morreu, em 1957, a jovem Liliane, de 35 anos, sucedeu-o como acionista.

Mas foi François Dalle quem realmente dirigiu a empresa. Embora o patriarca tenha integrado Jean-Pierre Meyers na gestão do grupo depois de casar a filha, sempre houve um presidente, um diretor-geral, uma pessoa de confiança, muito bem remunerada, que pilotava a empresa.

'Estrita igualdade' entre herdeiros

​Esse princípio nunca foi questionado ou mesmo discutido pelos herdeiros. Por outro lado, os Bettencourt-Meyers tratam os seus filhos com estrita igualdade. O objetivo nunca foi que os jovens trabalhassem na L'Oréal, mas sim, que entendessem como a empresa funciona, dizem amigos do casal.

Em 2012, Jean-Victor tinha apenas 26 anos quando substituiu a avó no conselho de administração. Em 2020, Jean-Pierre Meyers deixou o cargo para o mais novo, Nicolas, para evitar qualquer divergência e permitir que os dois irmãos pudessem participar da gestão ao lado da mãe.

Essa saída preocupou, porém, a direção executiva do grupo, que se questionou se os jovens conseguiriam desempenhar o seu papel de acionistas com a mesma seriedade do pai.

Nesse aprendizado, Jean-Victor também se tornou administrador da Téthys, que investe desde 1916 no ensino privado, na detecção de doenças raras, em clínicas privadas e em empresas inovadoras. Nicolas, por sua vez, ocupa o mesmo cargo na Fundação Bettencourt, que emprega 23 pessoas e, sobretudo, multiplicou por quatro o seu apoio a pesquisas científicas.

Segundo os pais, tudo isto não significa um emprego em tempo integral, mas dá aos herdeiros uma responsabilidade social, aproximando-os do grupo L'Oréal que, um dia, serão os únicos a pilotar.

(Por La Nacion — Paris)

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