Views
O mercado financeiro e o governo federal devem voltar os olhos nesta segunda-feira para os resultados financeiros de 2020 da Eletrobras, a superestatal de energia que voltou a ser foco na últimas semanas depois que o presidente da República prometeu — mais uma vez — privatizá-la.
A empresa divulga no fim do dia seus resultados de 2020 e do último trimestre do ano. Os resultados eram para terem sido divulgados na última sexta, mas foram postergados para esta segunda.
O governo federal vem tentando vender a companhia, que gera 34% da energia do país, desde a gestão do ex-presidente Michel Temer, mas a pauta não avança.
Para o ano de 2020, o Banco BTG Pactual — do mesmo grupo que controla a EXAME — espera que a empresa mostre um resultado de 15,1 bilhões de reais de EBITDA. Em 2019, esse valor foi de 9,1 bilhões.
Já o resultado líquido deve ser um lucro de 7,1 bilhões de reais, parecido com o de 2019: 7,5 bilhões de reais.
Na avaliação de analistas ouvidos pela revista Exame, a estatal é considerada um bom ativo no mercado e estaria madura para ser vendida caso a privatização avance depois de ter tido prejuízos durante anos e ter sido utilizada para fins políticos.
Entre os anos de 2012 e 2015, ela teve seu caixa usado politicamente, principalmente por causa da Medida Provisória 579, no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, que cortou o valor da energia em 20%.
Subsidiárias deficitárias (que já foram vendidas) nos estados do Amazonas, Roraima, Rondônia, Acre, Alagoas e Piauí também fazem parte do pacote de medidas que levaram a estatal a viver penúrias no começo desta década. Entre 2012 e 2017, foram 28 bilhões de reais em prejuízos.
O ainda presidente da empresa Wilson Ferreira Júnior, que assumiu a companhia em 2016 e deve sair neste mês março, é visto pelo mercado como o executivo que conseguiu "consertar" a casa.
Em fevereiro de 2016, por exemplo, as ações da companhia valiam cerca de 6 reais. Cinco anos depois, principalmente após o assunto da privatização voltar a ser destaque, as ações se mantêm acima de 32 reais.
Wilson Ferreira Júnior anunciou sua saída em janeiro após perceber que o projeto da privatização da companhia não vinha caminhando como ele gostaria.
Wilson é um defensor da privatização da Eletrobras e aceitou comandar a BR Distribuidora, empresa que já foi uma das subsidiárias da Petrobras.
A privatização da Eletobras só voltou a ser prioridade do governo após o presidente Jair Bolsonaro perceber que desagradou o mercado financeiro com a troca no comando da Petrobras, feita em meados de fevereiro.
Para sinalizar que estava comprometido comprometido com alguma agenda liberal, Bolsonaro enviou ao Congresso em meio à turbulência na troca de comando na Petrobras uma Medida Provisória ao Congresso que autoriza a Eletrobras a entrar no Plano Nacional de Desestatização.
Esta é a primeira de muitas etapas a serem concluídas até que ela deixe de ser pública e se torne privada.
Apesar de o governo falar em uma agenda de privatizações, vender qualquer estatal demora. Mesmo que o caminho seja longo, o banco BTG cita que há sinais positivos e coloca que há 50% de a empresa ser efetivamente privatizada até o fim do mandato do presidente Jair Bolsonaro.
Na modelagem anterior, era prevista uma capitalização que gerasse 24 bilhões de reais ao governo. Agora, dentro da proposta do governo Bolsonaro, há a previsão que serão captados 50 bilhões de reais.
O aumento se dá pela inclusão da usina de Tucuruí e as outras variáveis do cálculo do governo.
Outros detalhes sobre a capitalização da Eletrobras têm sido divulgados nos últimos dias. O governo afirma que o projeto não vai aumentar tarifas de energia para os consumidores, uma vez que a proposta prevê que a companhia direcione até 2,5 bilhões de reais ao ano para aliviar a alta nas contas de luz.
Analistas ouvidos pela EXAME defendem a privatização da Eletrobras principalmente porque a empresa teria mais agilidade e flexibilidade para agir em um cenário de geração distribuída se for privada.
No modelo proposto pelo governo Bolsonaro, haverá uma capitalização da Eletrobras na bolsa de valores. Ou seja, o governo venderá suas ações até deixar de ser acionista majoritário.
(Victor Sena)