Os cinco maiores bancos do país perdem R$ 5 bi em receita de tarifas
Retração da receita ocorre a despeito do aumento de 27,2% na base de clientes destas instituições

Em 2023, os principais bancos tradicionais do Brasil - Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander - registraram um montante de R$ 28,343 bilhões em receitas provenientes de tarifas associadas a serviços de conta corrente, como pacotes de serviços, transferências eletrônicas (TEDs) e outras taxas similares. 

Esta cifra, embora robusta, representa uma diminuição de aproximadamente R$ 1 bilhão em relação ao ano anterior e de R$ 5 bilhões quando comparada aos R$ 33,352 bilhões arrecadados em 2019 por meio desses mesmos serviços. 

A redução nas receitas é atribuída ao crescimento do sistema de pagamentos instantâneos Pix, à entrada de novos competidores no mercado financeiro digital, ao aprimoramento da transparência nas cobranças e ao aumento da consciência dos consumidores sobre os custos que estão incorrendo.

Apesar do crescimento de 27,2% na base de clientes dessas entidades bancárias, alcançando 410,7 milhões de pessoas no final do último ano (contabilizando indivíduos com contas em múltiplos bancos), a retração na receita se torna ainda mais significativa quando se ajusta pelo efeito inflacionário. 

Caso as receitas tivessem acompanhado a inflação medida pelo IPCA, o total arrecadado deveria ter alcançado R$ 42,6 bilhões, configurando uma perda real de mais de R$ 14 bilhões nesses R$ 28,3 bilhões efetivamente recolhidos.

Em 2019, as receitas oriundas de contas correntes representavam 19,7% do total de faturamento com tarifas - incluindo seguros, consórcios, mercado de capitais e cartões. Em 2023, essa proporção caiu para 15,5%. 

A concorrência com fintechs, que frequentemente isentam clientes de tarifas por serviços de conta corrente, juntamente com a popularização do Pix, que reduziu drasticamente as receitas com transferências eletrônicas (TEDs e DOCs, sendo este último descontinuado), foram fatores cruciais para essa queda. Adições regulatórias como o open finance, a portabilidade bancária e um aumento na transparência nas cobranças também tiveram impacto.

Analisando individualmente, há divergência nos resultados recentes entre os bancos: Itaú e Bradesco experimentaram uma redução de receitas nesta categoria em 2023, enquanto Banco do Brasil, Santander e Caixa apresentaram ligeira melhora ou estabilização. No longo prazo, a Caixa Econômica Federal foi a que mais sofreu redução em receitas.

José Daronco, da Suno Research, atribui a diminuição das receitas principalmente à competição das fintechs, ao sucesso do Pix e ao avanço tecnológico, levando bancos a diminuir ou até eliminar tarifas para reter clientes. 

Além disso, o aumento da conscientização sobre os pacotes de serviços essenciais, conforme estipulado na resolução 3.919 do Banco Central, teve um papel relevante. A influenciadora Nathália Rodrigues ("Nath Finanças"), por exemplo, se destacou ao informar o público sobre pacotes gratuitos e como solicitar reembolsos.

Phil Soares, da Órama, aponta a composição da clientela dos bancos, especialmente a presença de pessoas jurídicas, como um fator de resiliência nas receitas com serviços de conta corrente. Ele prevê que, apesar da tendência de queda, a maior parte do ajuste nas receitas já ocorreu.

Gueitiro Genso, ex-vice-presidente de varejo do Banco do Brasil e ex-CEO da PicPay, considera a mudança nas tarifas de conta corrente um reflexo do estímulo à concorrência pelo Banco Central desde 2013. Apesar do avanço das fintechs, bancos tradicionais responderam melhorando suas plataformas digitais. Ainda existe uma certa resistência de clientes mais antigos em migrar de instituição, além de uma valorização de aspectos distintos oferecidos pelos bancos, como a rede de agências físicas.

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