Em grave crise financeira, empresa buscou medida cautelar na Justiça para ganhar tempo e tentar negociar suas dívidas com credores

Grandes conglomerados de centros comerciais deram início a processos de execução de títulos judiciais contra a renomada rede varejista Polishop, após esta ter buscado uma medida cautelar nos tribunais para ganhar tempo e tentar renegociar suas obrigações com credores. Para evitar um cenário mais adverso, a empresa pode se ver obrigada a solicitar recuperação judicial caso não consiga chegar a um acordo extrajudicial.

Nos últimos dias, as ações foram movidas por empreendimentos ou subsidiárias controladas pela Allos, fruto da fusão entre Aliansce Sonae e BR Malls, General Shopping e Iguatemi.

De acordo com informações apuradas pelo Valor, as maiores dificuldades nas negociações estão sendo enfrentadas com empresas do ramo de centros comerciais e seguradoras de crédito de fornecedores, especialmente devido aos critérios rigorosos das seguradoras estrangeiras ao concederem garantias para varejistas em dificuldades financeiras.

A Polishop, que acumula dívidas de R$ 395 milhões, entrou com um pedido de tutela antecipada na 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo em 3 de abril. Alegou, na ocasião, que ainda não dispunha de todos os documentos necessários para dar entrada no pedido de recuperação judicial, mas, diante de sua situação financeira, precisava urgentemente de uma "medida imediata" para suspender execuções e despejos por parte de credores sujeitos à recuperação, que poderiam inviabilizar suas operações.

No mesmo dia 3 de abril, a liminar foi concedida, tratando-se de uma antecipação dos efeitos do processamento da recuperação judicial conforme previsto na legislação sobre o assunto, de 2005.

Antes da obtenção da medida cautelar pela varejista, entre janeiro e o final de março, havia oito processos movidos por shoppings e dois por fornecedores e uma seguradora de crédito, a Coface do Brasil, contra a empresa em São Paulo.

Dentre estes processos, o maior montante cobrado judicialmente é pela Philips Domestic Appliances, no valor de R$ 16,4 milhões. A Philips solicitou sigilo neste processo na terça-feira (9).

A intenção da empresa é iniciar negociações para renegociar seus passivos, ampliando prazos de pagamento e reestruturando seus negócios, visando assim chegar a um acordo de recuperação extrajudicial nas próximas semanas, evitando assim a necessidade de um processo judicial.

Mesmo com a medida cautelar em mãos, alegando à Justiça a falta de documentação para pedir a recuperação judicial, a empresa pode simultaneamente negociar um processo de recuperação extrajudicial.

Multas e aluguéis

Desde o dia 3 de abril, já após a entrada da ação com pedido de liminar, em São Paulo, entraram quatro ações de execução de título ou ação monitória, que pedem cobrança de dívida, por parte de administradoras ou controladoras de shoppings.

Em todos os casos, os juízes não suspenderam, até a manhã dessa sexta-feira (12), o pedido de cobrança, apesar da medida cautelar obtida pela Polishop, e as ações continuam em andamento.

No caso da General Shopping, são dois processos requeridos por suas duas administradoras de imóveis, no valor total de R$ 1,5 milhão. Na Iguatemi, a ação envolve o condomínio Esplanada Shopping Center, em Sorocaba (SP), no valor de R$ 255 mil. Na Allos, a dívida de R$ 10 mil refere-se à multa, e não ao aluguel (que seria outro valor) e é devida ao Condomínio Shopping Parque Dom Pedro, o maior empreendimento de Campinas (SP).

No pedido de medida cautelar, a Justiça já designou administrador judicial para o caso, que será a Cabezón Administração Judicial. Ainda suspendeu ações de despejo e execuções que impossibilitem que a empresa opere suas plataformas de marketing e tecnologia, além de antecipação de vencimento de dívidas financeiras.

Injeção de recursos

A Polishop enfrenta a sua mais grave crise financeira, o que obrigou os sócios a injetarem recursos para equilibrar a estrutura de capital da rede em 2022 e 2023. Desde o ano passado, dezenas de lojas deficitárias foram fechadas, com demissões e corte de custos.

Ao fim de 2021, eram 250 unidades, e um ano depois, em dezembro de 2022, a rede somava 180. No início deste ano, eram 123 unidades, e esse número já teria se reduzido.

A empresa tenta por de pé um plano de franquias, mas, para isso, precisa de investidores que aceitem colocar dinheiro no negócio e abrir unidades da empresa, num momento que corre o risco de entrar em recuperação judicial, segundo autos do processo. O objetivo da rede é inaugurar 23 franquias ainda em 2024.

Qual a sua reação?



Comentários no Facebook