Taxa Selic alta reduz financiamentos e deve pressionar aluguéis em 2025
Segundo dados do índice FipeZap, o ano de 2024 fechou com uma valorização acumulada de 13,50% nos preços dos aluguéis

O financiamento imobiliário no Brasil está ficando mais caro devido ao aumento da taxa Selic, o que, somado ao avanço dos preços de casas e apartamentos e ao mercado de trabalho aquecido, deve impulsionar ainda mais os preços dos aluguéis em 2025. Segundo dados do índice FipeZap, o ano de 2024 fechou com uma valorização acumulada de 13,50% nos preços dos aluguéis, quase o triplo da inflação do período (4,83%). Apesar disso, houve uma leve desaceleração em relação aos anos de 2022 (16,55%) e 2023 (16,16%), quando os reajustes refletiram repasses represados durante a pandemia de Covid-19.

Com a previsão da taxa de juros alcançando 15% ao final de 2025, o financiamento de imóveis deve se tornar ainda mais caro e restrito. Isso pode resultar na elevação do valor da entrada exigida para a compra financiada de imóveis e, consequentemente, adiar o sonho da casa própria para muitos brasileiros.

Expectativas para 2025

A economista Paula Reis, da DataZap, afirma que a expectativa para este ano é de novos aumentos nos preços dos aluguéis, impulsionados pelo cenário macroeconômico. “Esperamos reajustes acima da inflação. As projeções para a economia são otimistas. Embora o PIB não vá crescer muito, o mercado de trabalho tem boas previsões, com o desemprego na casa dos 7%. Por isso, a demanda por locação deve continuar aquecida”, explica.

Segundo a especialista, a necessidade de moradia combinada com a dificuldade de acesso ao crédito fará com que mais famílias optem pelo aluguel em vez da aquisição de um imóvel. Além disso, pode haver uma tendência de compra de propriedades menores do que o desejado. A classe média será a mais impactada por esse cenário, já que as famílias de alta renda têm mais acesso a capital e crédito, enquanto a população de baixa renda é contemplada por programas como o Minha Casa, Minha Vida, que oferece taxas de juros entre 4% e 8,16% ao ano.

Acelerada dos preços nas grandes cidades

Nos últimos anos, mesmo com o recorde de vendas de imóveis, a aceleração dos preços dos aluguéis tem sido consistente. Em São Paulo, por exemplo, o preço médio do aluguel por metro quadrado (m²) subiu de R$ 39,76 no final de 2021 para R$ 57,59. Isso significa que o aluguel de um imóvel de 60 m² aumentou de R$ 2.385,60 para R$ 3.455,40 nesse período.

Contudo, a variação de preços em 2025 deve ser significativa dependendo do bairro. Em Pinheiros, o aluguel médio de um imóvel de 60 m² pode chegar a R$ 5.388 (R$ 89,80/m²), enquanto no bairro de Santana, o valor seria de R$ 2.522 (R$ 42,40/m²).

Demanda aquecida e contratos fechados rapidamente

O diretor-executivo da Lopes, Carlos Berzoti, que atua na zona sul de São Paulo, destaca que a locação de imóveis está passando por uma fase positiva, com proprietários conseguindo fechar contratos com preços superiores aos anteriores. “A demanda por aluguel tem sido muito forte, devido à falta de recursos da Caixa para financiamento e à alta da taxa de juros”, explica. Segundo ele, o intervalo entre o anúncio de um imóvel e a assinatura do contrato de locação tem sido de apenas 20 dias, refletindo o aquecimento do mercado.

Maiores altas em outras cidades do Brasil

Além de São Paulo, outras cidades do país também registraram fortes aumentos nos preços dos aluguéis em 2025. Os maiores reajustes foram observados em:

  • Salvador: +33,07%
  • Campo Grande: +26,55%
  • Porto Alegre: +26,33%
  • Campinas: +19,32%
  • Joinville: +17,94%

De acordo com Paula Reis, os fatores que impulsionaram os aumentos são semelhantes em todas essas cidades, destacando-se o mercado de trabalho aquecido e a elevação da taxa de juros como os principais motivos.

Alta nos preços dos imóveis também influencia aluguéis

A pesquisadora da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ana Maria Castelo, ressalta que a alta dos preços dos aluguéis também está diretamente ligada ao aumento no valor dos imóveis. Em 2024, o preço das residências subiu 7,73%, a maior variação registrada desde 2013, segundo o índice FipeZap.

“Quando o preço do imóvel sobe muito, muitas pessoas preferem esperar antes de comprar, permanecendo no aluguel por mais tempo. Além disso, as condições de financiamento mudaram, seja pela alta nas taxas de juros, seja porque os bancos passaram a exigir uma entrada maior”, destaca Ana Maria.

A falta de políticas públicas para o setor

Para o CEO do GRI Club, Gustavo Favaron, o crescimento contínuo nos preços dos aluguéis também está relacionado ao ritmo insuficiente de construção de imóveis destinados à locação. Favaron defende a criação de políticas públicas que incentivem a construção de imóveis voltados para o mercado de aluguel.

“A oferta de imóveis para aluguel não tem acompanhado, e não vai acompanhar, a demanda crescente. Naturalmente, os preços continuarão subindo acima do IPCA ou do IGP-M. Isso fará com que uma parcela cada vez maior do orçamento das famílias brasileiras seja destinada ao aluguel”, alerta. “Se o poder público não agir de forma assertiva, teremos uma série de problemas no futuro.”

Perspectivas para o futuro

Com um cenário de financiamento restrito e preços imobiliários em alta, a tendência é que o mercado de aluguéis continue em expansão nos próximos anos. O desafio será encontrar o equilíbrio entre oferta e demanda, além de garantir que o acesso à moradia permaneça viável para todas as camadas da população.

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