VALE3: Analistas estão céticos apesar do suspiro de alta no preço do minério
Recuperação do Minério de Ferro Impulsiona Análises de Especialistas

Nos últimos dias, o mercado de minério de ferro tem mostrado sinais de recuperação, com uma série de incrementos em seu valor. No início de abril, o preço por tonelada da commodity, negociado em Dalian, flertou com a marca dos US$ 104, para hoje encerrar em US$ 112,48. Apesar desse avanço, as projeções de médio e longo prazo permanecem ambíguas, deixando os especialistas divididos quanto às perspectivas das ações da Vale (VALE3).

Arthur Bontempo Filho, analista especializado em mineração e siderurgia da WoodMac, aponta que a recente alta era, em parte, esperada, devido à retomada da produção de aço na China. A produção siderúrgica chinesa havia registrado uma queda em março, com um consumo mais fraco do que o previsto, mas agora está em processo de recuperação.

Segundo as projeções da consultoria, a relação entre oferta e demanda deve manter-se próxima à atual ao longo de 2024, com possíveis melhorias, uma vez que a China, apesar dos contratempos recentes em sua economia, mantém a considerável meta de crescimento de 5% para o ano. "Precisamos aguardar os resultados do crescimento do PIB no primeiro semestre e as medidas que serão anunciadas para atingir a meta anual. Contudo, os desafios são evidentes. A dívida está elevada e o mercado imobiliário está enfraquecido", comenta Bontempo.

Perspectivas de Médio Prazo para VALE3

No que tange às perspectivas de médio e longo prazos, a visão da WoodMac permanece inalterada. A empresa tem alertado sobre uma possível queda nos preços do minério no futuro, à medida que a demanda chinesa tende a diminuir com o avanço da urbanização e industrialização, além da entrada em operação de novas capacidades, como a mina de Simandou, na Guiné, exercendo pressão sobre os preços.

Lucas Laghi, analista da XP Investimentos, explica que a melhoria recente se deve a uma antecipação por parte das siderúrgicas, que estão se preparando para as projeções de crescimento e os estímulos governamentais à infraestrutura, que devem surtir mais efeitos no segundo semestre.

"Ainda que acreditamos em preços mais baixos para o minério de ferro a longo prazo, nossa expectativa é de que a oferta e demanda do setor permaneçam apertadas neste ano, favorecendo preços entre US$ 110 e US$ 120", afirma o analista da corretora.

Diante desse cenário, as análises sobre a Vale, maior mineradora do Brasil e uma das maiores do mundo, apontam que a empresa está bem posicionada, pelo menos no que diz respeito aos ganhos com o minério. Bontempo, da WoodMac, destaca que a companhia possui atualmente um dos menores custos de produção do mercado (C1), o que a mantém competitiva.

"A Vale não apenas parece estar precificada considerando o atual patamar do minério (~10% de desconto em relação ao minério de ferro), mas também pode se beneficiar desse movimento de retomada de curto prazo nos preços da commodity. Vemos um retorno de dividendos atrativo para 2024 com os preços do minério acima de US$ 110", acrescenta Laghi, da XP, que atualmente recomenda a compra das ações da Vale.

Desafios Internos

No entanto, há vozes mais pessimistas em relação à Vale neste momento, que além de questionarem a manutenção do preço do minério nos níveis atuais ao longo do ano, citam outras questões internas da empresa brasileira.

"Apesar do impulso na commodity, devido a especulações sobre uma maior demanda interna por minério de ferro na China, ainda não observamos fatores que possam impulsionar os preços ao longo do ano. A demanda ainda não demonstrou uma reação concreta e na magnitude necessária", observa Henrique Cavalcante, analista da Empiricus Research, que mantém uma posição neutra em relação à Vale.

Além disso, a pesquisa aponta que a incerteza em torno do processo de sucessão do CEO, a pressão política recente enfrentada pela empresa e a falta de visibilidade quanto a potenciais aumentos nas provisões relacionadas ao rompimento da barragem em Mariana também contribuem para sustentar a posição neutra.

Recentemente, o Bank of America adotou uma postura mais pessimista, rebaixando as ações da Vale para uma recomendação neutra e reduzindo o preço-alvo de R$ 95 para R$ 62. "Apesar da grande queda nos preços do minério de ferro no acumulado do ano, temos dificuldade em vislumbrar o potencial de valorização de curto prazo para a commodity", destacam os analistas liderados por Caio Ribeiro, que também mencionaram as questões das provisões.

Atualmente, as ações ordinárias da Vale contam com 11 recomendações de compra, seis neutras e uma de venda. Apesar do tom ainda otimista, há um mês eram 14 recomendações de compra, quatro neutras e uma de venda.

O preço-alvo médio atual está em R$ 86,65, contra R$ 91,20 um mês atrás. Nesta quarta-feira (10), as ações da Vale caíram 1,5%, fechando cotadas a R$ 61,60. No acumulado de abril, as ações registraram um aumento de 1,26%, mas no ano de 2024 acumulam perdas de 16,6%.

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