O cenário econômico brasileiro para 2025 está cada vez mais marcado por alertas de especialistas sobre os riscos de uma crise fiscal e os impactos de uma inflação persistente. Durante um seminário promovido pelo FGV Ibre em parceria com o Estado de S. Paulo, economistas ressaltaram a urgência de políticas fiscais austeras para conter o endividamento e restaurar a confiança no mercado.
José Júlio Senna, pesquisador do FGV Ibre, destacou que, apesar de uma política monetária contracionista, os efeitos sobre a inflação têm sido limitados devido ao crescimento acelerado do gasto público, estimado em cerca de 6% ao ano entre 2023 e 2024. Segundo ele, há um descompasso entre as políticas monetária e fiscal, resultando em aumento da demanda interna e pressionando os preços.
O Banco Central, que recentemente elevou a Selic para 12,25%, também enfrenta desafios em conter a depreciação do real e o aumento das expectativas de inflação, ambos agravados pela percepção de um quadro fiscal insustentável. “Ainda há tempo para uma política fiscal austera reverter essa situação, mas a falta de ações efetivas do governo é preocupante”, afirmou Senna, alertando para o risco de dominância fiscal, onde o controle inflacionário fica fora do alcance do BC.
Silvia Matos, também do FGV Ibre, reforçou que a crise de confiança gerada pelo excesso de gastos públicos pode levar a um cenário ainda mais adverso em 2025, com juros e inflação elevados. Segundo ela, o crescimento econômico de 3,5% esperado para 2024 será impulsionado principalmente por transferências de renda, mas esse estímulo tem efeitos de curto prazo que podem se tornar prejudiciais à economia. “As transferências trazem crescimento em 2024, mas ampliam os desequilíbrios fiscais, elevando o custo da dívida e os prêmios de risco”, explicou.
Armando Castelar, outro pesquisador do FGV Ibre, chamou atenção para os desafios externos que agravam o cenário doméstico. Ele mencionou as políticas potencialmente inflacionárias do governo de Donald Trump, como aumento de tarifas de importação e cortes de impostos, e a fragilidade econômica da Europa e da China, que enfrenta dificuldades para manter suas exportações diante de possíveis mudanças no comércio global.
No Brasil, a percepção é de que o tempo para ajustes fiscais está se esgotando. “Os preços de ativos, o câmbio, a Bolsa e os juros já refletem a insustentabilidade do atual modelo”, alertou Castelar. Ele afirmou que o governo parece apostar que há tempo até 2027 para reverter o quadro, mas o mercado aponta para uma necessidade de ação imediata.
Diante desse panorama, o consenso entre os especialistas é claro: apenas um compromisso firme com a consolidação fiscal e medidas coordenadas entre políticas monetária e fiscal poderão evitar um desfecho ainda mais difícil para a economia brasileira nos próximos anos.