O mês de maio termina com um saldo positivo para os ativos de risco no Brasil, consolidando o terceiro mês consecutivo de valorização no mercado financeiro. Impulsionados principalmente pelo fluxo de capital estrangeiro e expectativas de cortes de juros nos Estados Unidos, os mercados locais reagiram com otimismo — mesmo diante de ruídos fiscais recentes.
Na B3, o principal destaque foi o índice do setor imobiliário, que disparou 7,47% até o dia 29. As ações de empresas de menor capitalização, conhecidas como small caps, também tiveram forte desempenho, com alta acumulada de 6,42%. Já o Ibovespa avançou 2,57% no mês, elevando o retorno anual para 15,17%. Analistas apontam que, embora a economia brasileira siga enfrentando desafios, o movimento dos investidores estrangeiros em busca de ativos com preços atrativos favoreceu a bolsa nacional.
Na renda fixa, o índice IMA-B 5+, que representa os títulos públicos de longo prazo atrelados à inflação, subiu 2,84% no mês, acumulando alta de 9,14% no ano. A valorização reflete a manutenção da atratividade dos papéis com juro real elevado, em um ambiente de inflação sob controle e expectativas de estabilidade na taxa Selic, atualmente em 10,50% ao ano. Os títulos prefixados também mostraram recuperação, ainda que mais moderada.
O cenário externo também teve papel importante. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve manteve os juros entre 5,25% e 5,50%, mas o mercado ajustou suas expectativas e agora projeta apenas dois cortes na taxa básica em 2025. A política monetária mais cautelosa nos EUA e os receios de recessão moderada influenciaram os fluxos globais em direção a mercados emergentes, entre eles o Brasil.
O Bitcoin, ativo mais volátil e diretamente afetado pelo apetite ao risco, valorizou 12,04% em maio e acumula alta de 3,11% no ano, impulsionado por maior adoção institucional e pela expectativa de que os juros nos EUA não devem subir ainda mais.
Apesar do otimismo nos mercados, as incertezas fiscais voltaram ao radar nos últimos dias. O governo sinalizou a possibilidade de rever o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), medida que havia sido anunciada como alternativa para compensar perdas de arrecadação. O recuo acendeu alertas sobre o comprometimento com as metas fiscais e adicionou volatilidade às expectativas econômicas.
Para Helder Bassi, sócio e gestor da Est Gestão de Patrimônio, o cenário atual exige cautela. “O investidor pode se beneficiar da renda fixa com liquidez e segurança, esperando o momento certo para voltar a ativos de risco. O CDI continua sendo um bom porto seguro no curto prazo”, afirma. Ainda assim, ele vê oportunidades em ativos atrelados à inflação, como o Tesouro IPCA+, diante das taxas reais elevadas.
Já Rodrigo Sgavioli, chefe de alocação da XP Investimentos, destaca o papel dos fluxos globais. Segundo ele, a melhora da bolsa brasileira está mais relacionada a fatores externos do que a avanços internos. “O Brasil tem se beneficiado da busca por alternativas fora dos EUA, mas ainda não há uma grande tese estrutural que justifique um rali mais duradouro”, comenta. Ele recomenda manter uma exposição moderada a ativos em dólar e diversificação em renda fixa e variável, sem exageros.
João Piccioni, CIO da Empiricus Gestão, reforça que o bom desempenho de maio se deu mais pelo capital estrangeiro buscando oportunidades em mercados descontados do que por fundamentos domésticos. “Os fundos locais continuam sofrendo saques, mas o capital de fora enxergou valor nas ações brasileiras”, afirma. Segundo ele, mesmo com os bons resultados, o investidor pessoa física ainda está mais inclinado à renda fixa, especialmente pela atratividade dos títulos com prêmio sobre o CDI.
Com a aproximação do segundo semestre, os analistas concordam que o mercado continuará sensível a qualquer sinal de mudança na política fiscal ou monetária. O desempenho positivo de maio foi um alívio para os investidores, mas a continuidade dessa trajetória dependerá da capacidade do governo em manter o compromisso com o equilíbrio fiscal e do cenário externo permanecer favorável.
A combinação de juros elevados, inflação controlada e fluxo externo consistente compôs o cenário ideal para o bom desempenho dos ativos brasileiros no mês. Resta saber se os próximos meses manterão esse fôlego ou se os desafios fiscais internos e as incertezas globais trarão um novo ajuste de rota.