A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) determinou a suspensão de todos os voos dos Correios dedicados ao transporte de cargas a partir da próxima quarta-feira (4), por falhas na segurança operacional. A medida afeta as operações realizadas pelas empresas Total Linhas Aéreas e Sideral Linhas Aéreas, principais transportadoras contratadas pela estatal para esse tipo de serviço.
A decisão foi motivada por um incidente ocorrido em 9 de novembro de 2023, quando um avião cargueiro da Total, em rota de Vitória (ES) para Guarulhos (SP), pegou fogo em pleno voo. O incêndio começou cerca de oito minutos antes do pouso e obrigou os pilotos a realizarem uma manobra de emergência. Apesar da gravidade do caso, os dois tripulantes escaparam ilesos, mas a aeronave sofreu danos significativos.
As investigações apontaram que o avião transportava baterias de íon de lítio — componentes comumente usados em celulares, notebooks, veículos elétricos e sistemas de energia solar. Embora não sejam proibidas no transporte aéreo, essas baterias exigem cuidados rigorosos, como limite de quantidade e isolamento de outras cargas, devido ao alto risco de combustão em caso de superaquecimento, impacto físico ou falha de fabricação.
A Anac concluiu que as medidas de segurança previstas não foram adequadamente seguidas, o que comprometeu a operação e gerou a suspensão temporária dos serviços aéreos de carga contratados pelos Correios.
Segundo apuração da Folha, a Total prepara um documento para apresentar à Anac em que se compromete a assumir a responsabilidade integral pela segurança das cargas transportadas para os Correios, na tentativa de reverter a suspensão. A empresa alega que, atualmente, não tem acesso prévio ao conteúdo das cargas, já que os pacotes são entregues lacrados pela estatal. No entanto, é dever dos Correios informar à companhia aérea sobre a presença de materiais perigosos.
Após o episódio, os Correios passaram a submeter suas remessas a inspeção por raio-x, como medida adicional de controle.
Vale lembrar que, desde abril de 2016, a Anac já proíbe o transporte de baterias de íon de lítio como carga em aeronaves de passageiros no Brasil. A norma seguiu diretrizes da Organização de Aviação Civil Internacional (OACI) e levou em conta testes realizados por fabricantes como Airbus, Boeing e Embraer, que demonstraram a incapacidade das aeronaves de conter incêndios provocados por esse tipo de material.
Conforme os testes, uma única bateria danificada é capaz de iniciar um incêndio que rapidamente se alastra para outras, representando risco crítico à segurança do voo. As empresas Total e Sideral foram procuradas, mas não se manifestaram até o fechamento desta reportagem.