A XP Investimentos revisou para baixo sua estimativa para a inflação de 2025, reduzindo a projeção do IPCA de 5,7% para 5,5%. A decisão reflete, segundo o economista Alexandre Maluf, surpresas baixistas em dados recentes e sinais de moderação nos preços ao produtor e no atacado, especialmente em bens industrializados.
A prévia da inflação de maio, medida pelo IPCA-15, veio abaixo das expectativas do mercado, puxada pela desaceleração nos preços de bens duráveis e alimentos. A inflação de bens industriais, em particular, mostrou comportamento mais benigno do que o previsto. Maluf destaca que os efeitos da depreciação do real ocorrida no segundo semestre de 2024 parecem ter se dissipado, o que deve favorecer um ambiente de preços menos pressionados ao longo do segundo semestre deste ano.
“Projetamos uma desaceleração mais clara para os bens duráveis, e os dados recentes confirmam que o impacto cambial perdeu força”, avaliou o economista. Ele acrescenta que os preços dos serviços também se mostraram contidos em maio, ainda que esse alívio possa não ser duradouro. Aluguéis e taxas condominiais, por exemplo, registraram variações menores nos últimos três meses, assim como itens mais voláteis, como passagens aéreas. No entanto, Maluf pondera que fatores estruturais — como mercado de trabalho aquecido, aumento da renda e inércia inflacionária — ainda sugerem que a inflação de serviços pode voltar a ganhar fôlego mais à frente.
Em relação à alimentação, outro componente relevante do índice, a XP também observou surpresas positivas. Os alimentos subiram apenas 0,30% no IPCA-15 de maio, contra uma expectativa de 0,60%. A baixa foi puxada por quedas expressivas nos preços de frutas, tubérculos e hortaliças.
Apesar da revisão para 2025, a XP manteve sua projeção para o IPCA de 2026 em 4,7%, patamar acima do teto da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional para aquele ano. Segundo Maluf, o cenário estrutural continua desafiador, com estímulos econômicos em vigor e mudanças regulatórias no setor elétrico.
Um dos pontos de atenção é a nova medida provisória envolvendo o setor elétrico, que deve gerar aumentos nas tarifas de energia e, com isso, neutralizar parte do efeito desinflacionário observado em 2025. Além disso, a XP prevê que a demanda interna seguirá aquecida, impulsionada por medidas de estímulo do governo e um mercado de trabalho ainda forte — fatores que devem manter pressões sobre os preços livres, mesmo com a redução da inércia inflacionária.
Com a revisão, a XP reforça a leitura de que o processo de desinflação segue em curso, mas que os riscos seguem elevados no médio prazo, sobretudo se não houver contenção nos gastos públicos e reformas estruturantes que contribuam para a ancoragem das expectativas inflacionárias.