Campos Neto questionou a estratégia governamental de tentar impulsionar o crescimento econômico brasileiro por meio de estímulos à demanda, considerando essa abordagem equivocada. Segundo ele, o governo demonstra uma tendência de interpretar a inflação como um problema de oferta e o crescimento como uma questão de demanda, quando na realidade a situação seria exatamente o contrário.
O ex-presidente da autoridade monetária defendeu que o país precisa gerar oferta para alcançar um crescimento sustentável. Em relação ao IOF especificamente, ele argumentou que o imposto cria incertezas para investidores, que ficam receosos sobre possíveis taxas na hora de retirar seus recursos do país, o que acaba desestimulando novos investimentos.
Para ilustrar sua argumentação, Campos Neto destacou os Emirados Árabes como um dos locais de maior atração de capital no mundo, contrastando com a política fiscal brasileira. Segundo ele, o país árabe adota justamente o modelo oposto ao estabelecido pelo Brasil no atual governo, oferecendo estabilidade para quem deseja investir e liberdade para sair a qualquer momento.
O ex-presidente enfatizou a importância de dar estabilidade aos investidores que querem entrar no país e garantir que possam sair quando desejarem. Ele defendeu que a reinvenção econômica deve vir pelo setor privado, repetindo uma frase que costumava usar em suas gestões anteriores sobre a necessidade de encontrar soluções privadas para problemas públicos, ao invés de buscar soluções públicas para problemas privados.
Sobre o cenário político, Campos Neto mencionou que vê uma oportunidade se aproximando em 2026, referindo-se às próximas eleições presidenciais, e expressou esperança de que a população brasileira não deixe essa oportunidade passar.
Em relação à política monetária atual, o ex-presidente do Banco Central demonstrou aprovação à condução adotada pelo atual comando da instituição, que vem elevando a taxa Selic nas últimas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). Ele afirmou que, se estivesse no cargo, adotaria as mesmas medidas, considerando que o atual comando tem feito um trabalho adequado dentro das circunstâncias possíveis.
Campos Neto ressaltou que não possui críticas à política monetária em vigor, argumentando que o problema atual não está na condução dos juros, mas sim na política fiscal. Segundo ele, os responsáveis pela política monetária têm trabalhado de forma muito similar ao que ele próprio faria na posição.
Questionado sobre a perspectiva de fim do ciclo de alta da taxa básica de juros, o ex-presidente alertou que mesmo se a Selic, atualmente projetada para se manter em 14,75% até o final do ano, recuar para eventuais 13%, ela continuará em patamar elevado. Para ele, o Brasil não possui credibilidade fiscal suficiente para que a taxa retorne ao nível de um dígito.
Campos Neto explicou que não considera possível gerar uma credibilidade fiscal muito diferente da atual situação. Ele reconheceu que a taxa está em nível restritivo, mas justificou que quando o ciclo de alta foi iniciado, existiam diversos sinais de superaquecimento da economia, incluindo indicadores na parte de importação e demanda agregada em ascensão, o que justificou as elevações implementadas durante sua gestão.