O mercado de ações brasileiro pode estar prestes a entrar em uma fase de valorização significativa, segundo avaliação de Raphael “Rafi” Figueiredo, estrategista da XP Investimentos. Em relatório recente, ele aponta que o ambiente atual, mesmo ainda marcado por juros elevados, já prenuncia um ciclo de transição que favorece ativos de risco como as ações. Para o especialista, a Bolsa tornou-se “inevitável” para quem deseja aproveitar o movimento de reprecificação antes da virada nos indicadores econômicos.
A análise foi publicada após a divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que elevou a Selic para 15% ao ano. Apesar do aumento, o documento sinalizou que o ciclo de alta se encerrou, mencionando que os efeitos do aperto monetário ainda serão sentidos à frente. Essa postura fortalece a leitura de que os investidores devem começar a reavaliar sua forte exposição à renda fixa e redirecionar parte do portfólio para a renda variável.
Rafi ressalta que ignorar a transição atual é mais do que um erro de timing: é uma omissão estratégica. “Chegamos ao fim do ciclo de alta da Selic. Isso exige um reequilíbrio nas carteiras, com menor peso em renda fixa e maior atenção para ações”, afirma. Ele destaca que, historicamente, os períodos que sucedem o fim de uma alta de juros apresentam 62,5% de chance de retornos positivos para o Ibovespa. A média de duração desse regime favorável é de 164 dias, tempo em que os ativos de risco tendem a se valorizar antes da reação visível da economia real.
Entre os setores que historicamente se destacam nesses ciclos estão os de valor e ações de baixo risco, que superaram o Ibovespa em 71,4% e 85,7% das vezes, respectivamente. Além disso, em momentos semelhantes no passado, o índice chegou a registrar retornos nominais anualizados de até 76%, como ocorreu entre fevereiro de 2003 e janeiro de 2004.
Com a perspectiva de queda da Selic, o custo de capital das empresas deve diminuir, permitindo a expansão dos múltiplos de valuation, como P/L e EV/Ebitda. Isso impulsiona especialmente companhias com ativos descontados e maior exposição à economia doméstica, como bancos e varejo. Segundo o estrategista, é nesse momento que o fluxo de investimentos se antecipa aos fundamentos. “A reprecificação dos ativos começa antes da melhoria nos resultados operacionais. A hora de agir é agora, e não quando os dados confirmarem”, afirma.
Rafi também aponta que o principal risco do cenário atual não é estar posicionado em ações, mas sim ficar de fora. “Quando a política monetária começa a se flexibilizar, a assimetria muda. O custo de perder o movimento supera o risco de errar no timing.”
A avaliação da XP é compartilhada por outros players do mercado. O UBS, por exemplo, elevou a recomendação para ações brasileiras para “overweight” entre os emergentes, destacando que a última alta de juros pode ter sido a derradeira do ano, e que a trajetória de queda da Selic pode começar já em abril de 2026 — em um ritmo mais acelerado do que o previsto atualmente.
Apesar do otimismo, Rafi ressalta a importância de uma alocação equilibrada. “Renda variável não substitui renda fixa, ela complementa. Ainda estamos longe de um cenário de euforia, mas é nesse ponto que o investidor consciente começa a se posicionar.”
Com a expectativa de estabilização da taxa básica e possíveis cortes futuros, os investidores que entrarem no mercado de ações agora podem capturar os melhores momentos do novo ciclo econômico. Para a XP, a mensagem é clara: estar na Bolsa deixou de ser opção e passou a ser uma necessidade estratégica para quem busca retornos acima da média no médio e longo prazo.