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IPCA-15 cai em agosto mas núcleos elevados preocupam analistas

Prévia da inflação recua 0,14% em agosto, mas alta nos serviços e núcleos preocupa analistas

O IPCA-15 de agosto registrou deflação de 0,14%, após alta de 0,33% em julho, segundo o IBGE. Foi a primeira queda do índice em mais de dois anos e levou a inflação acumulada em 12 meses para 4,95%. Apesar do alívio numérico, o resultado veio pior que o esperado pelo mercado, que projetava uma deflação mais intensa, próxima de 0,20% a 0,22%. Analistas alertam que, embora alguns itens tenham contribuído para a queda, os núcleos de inflação e os serviços subjacentes avançaram, sinalizando que a dinâmica de preços segue desafiadora.

No grupo de habitação, a energia elétrica foi o principal destaque. O bônus de Itaipu reduziu tarifas em várias regiões, mas o impacto foi limitado pela entrada da bandeira vermelha patamar 2 e por reajustes em cidades como Porto Alegre, Curitiba e São Paulo. Com isso, a queda do item foi de 4,93%, abaixo da projeção de -6,74%. Em alimentação, o movimento foi mais benigno: a deflação atingiu 1,02%, puxada por carnes, frutas, hortaliças e tubérculos. Ainda assim, outros grupos pressionaram o índice, como vestuário, que registrou alta inesperada de 0,17%, e educação, com avanço de 0,78%.

O setor de transportes apresentou comportamento misto. As passagens aéreas caíram 2,59%, menos do que os -7% projetados, frustrando expectativas de um alívio maior. Já a gasolina recuou 1,14%, em linha com estimativas, e os automóveis novos tiveram queda de 1,32%, reflexo direto do IPI verde. Mesmo assim, os economistas destacam que a contribuição desses itens não compensou a aceleração dos núcleos, justamente o que mais preocupa para a condução da política monetária.

Segundo a Warren Investimentos, a leitura qualitativa do IPCA-15 foi negativa. “Apesar de a deflação no mês, os núcleos vieram mais altos do que esperávamos, especialmente em serviços, o que não sinaliza um quadro tão positivo para a inflação de médio prazo quanto vínhamos observando em divulgações anteriores”, afirmou a casa em relatório. A Warren também revisou sua projeção para a inflação de agosto, de -0,22% para -0,17%, e elevou em 5 pontos-base a estimativa para o IPCA de 2025, agora em 4,9%.

Para Natali Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, o dado interrompeu a sequência de boas surpresas recentes. “O resultado refletiu principalmente o desconto de Itaipu e o IPI verde, mas o qualitativo foi mais negativo. Os serviços voltaram a acelerar, com os subjacentes no limite superior das projeções, e os itens intensivos em mão de obra devolveram o alívio de julho”, explicou. Segundo ela, o quadro reduz a margem para revisões baixistas nas projeções de inflação para 2025. “A mensagem que fica é de cautela. O dado mostra que a convergência da inflação será mais lenta do que parecia no início do ano.”

Já Sara Paixão, analista de Macroeconomia da InvestSmart XP, ressaltou que a abertura do índice reforçou preocupações. “O núcleo avançou 0,24%, levemente acima do consenso de 0,23%, e os serviços subjacentes vieram mais fortes, a 0,55%. Isso vai de encontro às expectativas de que o Copom pudesse antecipar cortes de juros em 2025”, afirmou. Ela destacou ainda os efeitos sobre o mercado: “As curvas de juros operaram em alta logo após a divulgação, refletindo a percepção de que a inflação de serviços ainda exige atenção.” Para Paixão, os próximos dados de atividade e crédito serão decisivos para calibrar as expectativas. “Se a desaceleração econômica se confirmar, o Banco Central pode manter espaço para reduzir juros, mas não em um ritmo mais agressivo.”

Os especialistas concordam que o IPCA-15 de agosto trouxe uma fotografia ambígua: de um lado, alimentos e combustíveis ajudaram a conter o índice; de outro, os serviços e núcleos de inflação mostraram resiliência, dificultando a trajetória de queda consistente. Para o mercado, o dado reforça a necessidade de prudência na condução da Selic, já que a batalha contra a inflação ainda está longe de ser vencida.

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